Certa vez Jesus contou esta história:
“O Reino de Deus é como uma mulher que lançava suas redes em águas turvas.
Havia um rio de águas agitadas, cercado por barulho de música e cheiros de bebida forte.
Ao redor, luzes de bordéis e risadas de botecos ecoavam noite adentro.
Ali, muitos se afogavam em tristeza, vício e solidão.
Mas poucos ousavam lançar a rede ali.”
Os que se diziam grandes pescadores de homens, pastores vestidos de respeito, preferiam as lagoas calmas.
Entravam apenas em aquários onde já havia peixe domesticado: crentes de outras igrejas.
Ali estendiam as redes com facilidade, recolhendo o que já conhecia a linguagem da fé.
Diziam que tinham muitas “conversões”, mas seus barcos nunca enfrentavam correntezas.
Mas Régia Silva não temia o rio escuro.
Enquanto eles recolhiam peixes domesticados, ela caminhava entre portas de ferro e mesas de sinuca, entre fumaça de cigarro e luz vermelha.
Sentava-se com prostitutas, abraçava bêbados, ouvia histórias de quem não tinha mais lágrimas.
Não negociava a mensagem, mas oferecia pão e oração, amizade e esperança.
Suas redes eram feitas de compaixão e paciência; sua força vinha da graça de Deus.
Alguns riam:
“Ela perde tempo com gente perdida.”
Outros murmuravam:
“Esses lugares mancham a reputação.”
Mas Jesus concluiu:
“Em verdade lhes digo: quem busca apenas o peixe já lavado recebe recompensa de homens.
Mas quem lança a rede onde a noite é mais escura enche os celeiros do Céu.
Assim é a missionária Régia: uma verdadeira pescadora de humanos, porque segue o coração do Pastor que veio buscar o que se havia perdido.”
E o Mestre terminou dizendo:
“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Pois o Pai se alegra mais por um perdido encontrado nas ruas da madrugada do que por noventa e nove que jamais saíram do aquário.”