Essa abertura não foi marginal, acidental ou fruto de curiosidade isolada. Ela surgiu de dentro do movimento e foi promovida por um dos seus nomes mais influentes naquele período: Thomas F. Barry.
Barry tornou-se uma figura chave ao defender publicamente que alguns textos intertestamentários, especialmente 2 Esdras, continham profecias inspiradas e relevantes para os últimos dias. Seus sermões e artigos — como o conhecido “The Day and Hour Now Known”, publicado em 17 de outubro de 1844 no periódico millerita The Voice of Truth — propagaram a ideia de que 2 Esdras não apenas corroborava a interpretação profética de William Miller, mas que possuía autoridade espiritual comparável à das Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.
Ou seja:
Quando milhares aguardavam a volta de Cristo naquela terça-feira silenciosa, uma parte significativa da estrutura teológica que os sustentava era moldada por interpretações que usavam textos intertestamentários não apenas como material devocional complementar na KJV, mas com status de fonte profética central, servindo de base para cálculos escatológicos e expectativas doutrinárias.
Isso equivale a dizer que sem os apócrifos não haveria Igreja Adventista hoje
A influência de Barry não se limitou ao seu círculo imediato. Suas interpretações fomentaram um ambiente teológico no qual os milleritas fortaleceram a confiança nessa coleção mais ampla de escritos como realmente inspirados. A partir dos sermões de Barry, arraigou-se uma tendência clara no movimento: reexaminar e ampliar o conceito de Escritura Sagrada, também para os livros intertestamentáios.
Essa abertura encontrou reforço nas visões de William Foy, um profeta millerita amplamente respeitado antes do surgimento público de Ellen Gould Harmon (White). As visões de Foy apresentavam paralelos profundos com o conteúdo de 2 Esdras, tanto em estrutura quanto em imagens e temas: viagem guiada por anjo, livro selado, cena de juízo e transição final. Para muitos milleritas, o fato de um profeta reconhecido relatar visões que refletiam diretamente um texto apócrifo serviu como confirmação implícita de sua inspiração.
Mesmo após a chamada Grande Decepção, em 1844–1845, quando vários ensinos de cronologia escatológica falharam, o uso e a valorização dos Apócrifos não desapareceram. Ao contrário: alguns milleritas reinterpretaram as profecias, mas mantiveram 2 Esdras como escritura inspirada. Esse movimento de continuidade demonstra que a aceitação dos Apócrifos como inspirados não foi um acidente temporário, mas um elemento estruturante para uma parte significativa do pensamento millerita.
Assim, dentro do contexto mais amplo do movimento — caracterizado por expectativa apocalíptica intensa, busca por novas revelações e reinterpretação constante das profecias — a ampliação do cânone entre alguns de seus líderes e seguidores se tornou um desenvolvimento central e determinante.
Em outras palavras:
– Thomas F. Barry promoveu ativamente 2 Esdras como inspirado.
– Suas interpretações estimularam outros a reconsiderar o cânone.
– William Foy reforçou essa aceitação com visões paralelas ao texto apócrifo.
– Após 1845, vários milleritas continuaram aceitando esses escritos como escritura legítima.
– Isso criou uma visão mais abrangente do que constituía “Palavra de Deus” para muitos pioneiros.
Esse quadro coloca uma questão inevitável e desconfortável para qualquer adventista honesto:
Se Deus estava guiando o movimento millerita, e se parte significativa dos seus líderes e profetas defendia e utilizava textos chamados apócrifos como inspirados, então:
O movimento millerita procedia de Deus?
Porque a implicação lógica é inescapável:
Se procedia de Deus, então devemos reconhecer que Deus validou e utilizou os Apócrifos, especialmente 2 Esdras, como instrumento de revelação e confirmação profética. Portanto, o adventismo histórico deveria retornar àquilo que seus próprios pioneiros aceitaram como inspirado.
Se, por outro lado, rejeitamos os Apócrifos como satânicos, perigosos, falsos ou corrompidos, então estamos afirmando que a origem do movimento millerita e da Igreja Adventista está contaminada, e que Deus teria conduzido Seu povo usando materiais que hoje se afirma procederem de Satanás.
E isso levanta o ponto final e inevitável:
Deus faria Sua obra em parceria com Satanás?
Adventistas, respondam.
MATERIAL ADICIONAL
Pesquisa na IA do Google: Havia crentes da inspiração dos Apócrifos entre os Milleristas?
Sim, alguns dos primeiros adventistas sabatistas, particularmente no período anterior a 1863, estavam abertos aos Apócrifos, chegando a considerar textos como 2 Esdras , inspirado com base nas visões de figuras como William Foy.
Essa abertura foi influenciada por figuras como Thomas F. Barry, que publicou opiniões sobre o assunto, e mesmo após o “Grande Desapontamento”, alguns milleritas continuaram a interpretar profecias bíblicas e extrabíblicas, às vezes confirmando implícita ou explicitamente a inspiração desses textos.
Influência de Thomas F. Barry: Barry foi uma figura chave que ajudou a promover a ideia de que alguns dos Apócrifos foram inspirados, influenciando outros no movimento millerita.
William Foy e 2 Esdras: As visões de William Foy, um notável profeta millerita, apresentaram semelhanças significativas com o livro apócrifo 2 Esdras . As visões de Foy confirmaram implicitamente a inspiração do texto aos olhos de alguns milleritas, pois ele descreveu visões que eram consistentes com o conteúdo da obra pseudoepígrafa.
Abertura contínua após a Grande Decepção: Mesmo após a decepção de abril de 1845, alguns milleritas não abandonaram a crença na inspiração dos Apócrifos. Eles continuaram a propor novas interpretações da profecia, e algumas dessas interpretações continuaram a considerar esses textos como escrituras inspiradas.
Thomas F. Barry e seus seguidores, membros do movimento millerita, influenciou alguns milleritas ao propor novas interpretações das profecias bíblicas, o que fomentou uma maior disposição entre alguns para aceitar uma gama mais ampla de livros como escrituras inspiradas.
Isso é significativo porque indica uma mudança na forma como um segmento do movimento abordava o cânone, sugerindo uma tendência para uma compreensão mais inclusiva de quais escritos eram considerados divinamente inspirados.
Novas Interpretações Proféticas: Barry e seus seguidores apresentaram visões alternativas sobre as profecias bíblicas. Isso encorajou outros a examinarem as escrituras de novas maneiras, indo além das interpretações estabelecidas.
Aceitação de mais Escrituras: Suas visões ajudaram a cultivar um ambiente no qual alguns milleritas se tornaram mais abertos a considerar mais livros como parte do cânone bíblico inspirado. Isso criou uma visão mais abrangente do que constituía escritura sagrada para alguns seguidores.
A influência de Thomas F. Barry foi significativa porque as interpretações de profecia feitas por seu grupo contribuíram para a disposição do movimento millerita em aceitar mais livros como escritura divinamente inspirada.
Essa disposição para reexaminar e aceitar uma coleção mais ampla de textos como escritura foi um desenvolvimento fundamental dentro do movimento millerita, que se caracterizava por suas crenças fervorosas em uma iminente Segunda Vinda de Cristo.
Novas interpretações: Barry e seus seguidores propuseram novas interpretações das profecias, o que levou a uma reavaliação das crenças existentes e dos textos bíblicos.
Maior aceitação das escrituras: Suas visões encorajaram muitos dentro do movimento a considerar uma gama mais ampla de livros como inspirados, potencialmente incluindo livros além do cânone tradicional.
Contexto dentro do movimento millerita: Esse desenvolvimento ocorreu dentro do movimento millerita mais amplo, que se caracterizava por seu foco em profecias apocalípticas e no retorno iminente de Cristo.