Como Debater Sobre a
O seguinte texto foi selecionado de um sermão pregado por William Brace em um congresso da mensagem de 1888 realizado em Vichy, França, de 27 a 30 de setembro de 2001. Ele destaca a importância de não somente buscar compreender a verdade sobre a natureza de Cristo, mas também respeitar aqueles que têm opiniões diferentes. Ao estudar este assunto, devemos ter em mente a principal regra de interpretação bíblica: o ágape (amor). Este tema precisa ser mais que mera teoria, deve transformar completamente o nosso ser, ao contemplarmos Aquele que é “totalmente desejável”, “o primeiro entre dez mil”. A nossa identificação com os pecadores é o único segredo para obtermos sucesso no evangelismo pois, como Jesus, não nos julgaremos superiores a ninguém. Na busca por entender a natureza de Cristo, devemos abandonar as idéias preconcebidas e desejar sinceramente conhecer a verdade que glorifica a Deus. Nestes últimos dias, é necessário que renunciemos completamente a nossa vontade e, assim como Jesus, viver segundo a vontade de Deus. Dedicamos este artigo especialmente aos irmãos leigos como nós, a fim de que possamos apresentar a “verdade com amor” e alcançar a “unidade no corpo de Cristo”. Recomendamos de maneira especial a leitura do texto do Dr. Jean R. Zurcher, onde ele expõe os fundamentos e a importância prática da natureza humana de Cristo, através de um profundo estudo bíblico. “A humanidade do Filho de Deus é tudo para nós. É a corrente dourada que liga as nossas almas a Cristo, e por meio de Cristo a Deus. Isto deve constituir nosso estudo. ... Quando abordamos estes assuntos, bem faremos em tomar a peito as palavras dirigidas por Cristo a Moisés, junto à sarça ardente: 'Tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa'.” – Mensagens Escolhidas, livro 1, pág. 244.
Hoje eu gostaria de lhes falar do Pão da Vida; de Jesus. Acaso existe alguma outra coisa mais interessante de que podemos falar? Não, não existe nada tão sublime quanto Jesus. E se a mensagem de 1888 se centraliza em algo, é precisamente em Jesus. Chegamos hoje a um tema muito importante para a mensagem da justiça de Cristo dada em Mineápolis, em 1888. Hoje abordaremos o tema da natureza de Cristo. Sei que a respeito deste ponto, no meio adventista, muitos dizem: “prefiro nem falar sobre isso”. Infelizmente, para muitos é um tema polêmico que não provoca mais que controvérsia. E se algum de vocês tem este tipo de preocupações, quero lhes dizer que este tema da natureza de Cristo, NÃO é de forma alguma polêmico. Eu posso lhes garantir. Durante décadas tem prevalecido uma constante discussão quanto a que tipo de natureza Jesus tomou sobre Si. Quero recordar-lhes algo que tenho repetido em várias ocasiões durante estas palestras. Existe um princípio hermenêutico, ou seja, uma regra de interpretação, que irá lhes ajudar a compreender a interpretação correta acerca da natureza de Cristo. Como acredito que vocês já se lembraram, este princípio é o ágape, o princípio do verdadeiro amor cristão. Quando você e eu compreendemos este tipo de amor, só existe uma conclusão a que podemos chegar honestamente, quando à natureza de Cristo. Lembrem-se também que quando falamos do ágape, não somente dissemos que era amor livre de egoísmo e cheio de abnegação, mas também comentamos que era amor disposto a condescender até o mais inferior. Isto é algo muito importante e digno de ser lembrado. Lembram-se o que diz O Grande Conflito, pág. 710? O que já comentamos anteriormente. É uma frase muito curta, que Ellen White escreveu: “O mistério da cruz explica a todos os outros mistérios”. Portanto, o tema da natureza de Cristo pode ser explicado somente quando a pessoa compreende o amor de Deus manifesto na cruz de Cristo. Aceitem este conselho: nunca tentem explicar a natureza de Cristo sem manterem a cruz diante de vocês. Do contrário, vocês certamente iriam terminar fazendo um discurso totalmente legalista. Permitam-me que eu conte uma história um pouco triste. Já faz alguns anos, em uma reunião campestre em Boston, minha esposa e eu fomos até a cidade, e nos dirigimos a uma livraria adventista. Minha esposa entrou, mas eu fiquei fora por mais alguns instantes. A minha esposa saiu rapidamente, e me disse: “Querido, você tem que entrar imediatamente”. O motivo é que lá dentro estava acontecendo alguma coisa. Ao entrar comprovei que havia dois homens discutindo energicamente e a viva voz. Estavam exaltados e gritavam desaforadamente. Todo o edifício podia ouvi-los. Vocês podem imaginar sobre que tema estavam discutindo? Exatamente, discutiam sobre a natureza de Cristo. Estavam a meio metro um do outro, e seus rostos estavam cheios de ira. Aproximei-me deles, e prestei atenção durante alguns momentos no que diziam. Eu conhecia a ambos. E eles também conheciam um ao outro. Um era professor de um seminário de teologia, e o outro era leigo mas profundo estudioso e conhecedor dos temas bíblicos.Um apontava ao outro com o dedo. Finalmente me aproximei deles e lhes disse: “Perdão cavalheiros” (naquele momento, lhes chamar de cavalheiros era uma evidente exagero), “o que estão fazendo?” Olharam para mim, e um deles, que era o mais irritado, se dirigiu até onde eu estava, enquanto pensei que ia dizer para eu cuidar da minha vida. Mas antes de mais nada, eu lhes disse: “O que vocês acham que irá pensar uma pessoa que os vir assim?” Imediatamente decidiram encerrar o debate. Um deles estendeu a mão ao outro para se reconciliarem. Mas o outro se recusou, saindo apressadamente do lugar. Eu tive a sensação de estar vendo duas crianças. Segundo a minha compreensão das Escrituras, eu poderia estar de acordo com o ponto de vista de um deles. Mas à margem disso, cada um dos dois estava 50% equivocado. Triste verdade? Então me deixem dizer que estes confrontos ocorrem muitas vezes nas escolas sabatinas e nas reuniões bíblicas. O que acontece depois é que as pessoas que tem cargos de responsabilidade, junto com os dirigentes, ao ver estes acalorados debates, dizem: “Isto causa divisões; é um tema polêmico”. Então não querem saber nada sobre isso, nem querem falar com aqueles que compreendem a importância que tem este assunto. Animo-lhes a jamais repetir uma cena como esta. Se vocês são servos de Jesus, jamais se envolverão em disputas. ... Quando eu descobri o que a mensagem de 1888 falava sobre Cristo e Sua justiça – há uns quinze anos -, este tema comoveu o meu coração como nenhum outro. Lembro-me como me fez derramar lágrimas, e como foi inspirador para mim. Contemplei a Jesus como Aquele que é “totalmente desejável”, o “primeiro entre dez mil” (Cantares 5:16, 10) ainda que isso significou uma humilhação para mim. Fui levado a um arrependimento muito mais profundo do que tinha experimentado até então. Conhecer Jesus assim, transformou de tal maneira o meu coração, que este tema que talvez vocês já tenham ouvido muitas vezes, quebrantou o meu coração de alegria. É meu desejo que este assunto também comova o coração de vocês. ... Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Romanos 8:3 e 4 Cristo veio a ser feito em carne pecaminosa, que não é o mesmo que dizer que Ele tinha carne pecaminosa, ou carne do pecado. Lembrem-se, nunca devemos dizer que Ele TINHA natureza pecaminosa, mas sim que “Ele tomou sobre Sua [divina] natureza sem pecado a nossa natureza pecaminosa” (Ellen White, Medicina e Salvação, pág. 181), porque certamente vinha redimir a natureza pecaminosa do homem.O original grego utiliza uma palavra que talvez vocês já conheçam: “sarx”. Traduzimos como “carne”, mas não no sentido de carne de animal, mas no sentido da própria natureza da carne. É por isso que Paulo diz em I Coríntios 15:50 que “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção”. Portanto, repetimos: Jesus, sobre Sua natureza sem pecado, tomou a nossa natureza pecaminosa, e fazendo isso “condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Romanos 8:3 e 4). Esta é uma maravilhosa mensagem que nos fala da possibilidade de vitória sobre o pecado, e me diz que podemos chegar a ter “a mente de Cristo” (I Coríntios 2:16). Lembre-se: nunca obtemos isso pelo que “fazemos”, mas pelo que ELE fez e continua fazendo em nossa mente e em nosso coração. O Novo Testamento repete constantemente a idéia da identidade de Jesus com o homem pecador, de Sua identidade com nossa natureza pecaminosa. Lembram-se do que diziam os escribas e fariseus sobre Jesus? “Este recebe pecadores, e como com eles” (Lucas 15:2). Jesus não havia vindo chamar justos ao arrependimento. Ele disse que tinha vindo chamar os pecadores (verso 7), e não podia chamar os escribas e fariseus se eles insistiam em manter-se afastados dEle, ainda que estivesse “próximo, à mão”. Jesus Se aproximava dos pecadores porque isso Lhe dava alegria, e ainda hoje sente o máximo prazer em aproximar-se de nós, pecadores. Não que esteja conformado com os seus pecados, nem os ignora nem os confirma, mas está junto do pecador para que este possa comprovar quão próximo Cristo está dele. É seu Salvador. O pecador não merece isto, mas ainda assim, é o Salvador e “não está longe de cada um de nós” (Atos 17:27), com a finalidade de chamar-nos de perto para que abandonemos os nossos pecados. Ellen White nos explica em seu livro “A Ciência do Bem Viver” que o método de Jesus é o único que alcança sucesso para trazer os pecadores e lhes dar saúde espiritual. Cristo Se misturou entre os pecadores a fim de lhes fazer bem, participou de suas necessidades e assim ganhou a confiança deles para lhes dizer: “Segue-Me”. Este continua sendo hoje o único método eficaz. Se vocês compreenderem o tema da natureza de Cristo, inevitavelmente irão compreender o assunto do arrependimento corporativo: os dois andam em estreita relação, ainda que tudo começa por entender PRIMEIRO o conceito do amor ágape. ... Lembram-se da história daquela mulher tomada em adultério, que foi levada a Jesus? Ela não esperava outra coisa senão ser condenada, tanto pelos homens que a arrastavam como por Jesus, e pensava que tudo ia terminar em apedrejamento. A Escritura, em João 8:6, diz que os escribas e fariseus estavam “tentando-O, para que tivessem de que O acusar”. Mas Jesus, quando viu a esta mulher, lhe disse: “Nem Eu também te condeno; vai-te, e não peques mais” (verso 11). Por que Jesus pôde ser tão compassivo com esta mulher, quando as outras pessoas manifestaram unicamente a sua justiça própria? A resposta é simples: Jesus sabia que sem o sustento e apoio de Seu Pai celestial, Ele mesmo poderia ter caído no mesmo pecado que esta mulher. Jesus Se colocou no lugar desta mulher, e de alguma maneira viu a Si mesmo nesta situação. Supôs que se não fosse pelo pode e graça de Deus, cairia como ela caiu. Se adquirimos esta maneira de pensar em relação aos demais pecadores, seremos eficazes ganhadores de almas. Na realidade isto tem muito a ver com o conceito de arrependimento corporativo. Jamais podemos nos desvincular do pecador, visto que formamos parte de um mesmo corpo, cuja cabeça é Cristo (I Coríntios 12:27). Se alguém está alegre, todos ficam alegres, se alguém peca, todos são afetados por este pecado. Nunca podemos dizer: “Oh, eu não tive nada a ver com a sua alegria ou com a sua dor!” ... Eu gostaria de dedicar alguns minutos para destacar a importância deste tema. Infelizmente algumas pessoas dizem: “Há duas posições, e eu não sei qual é a correta”. Outros pensam que só teremos a solução para este problema quando estivermos na eternidade. Este tipo de atitude me entristece, porque é pensar que o assunto não tem nenhuma importância. Já ouviram alguém dizer: “Este tema não tem muita importância para a MINHA salvação”? Uma declaração assim, reflete uma fé egocêntrica e indigna, porque o que para nós não parece importante, pode ser importante para Deus. É semelhante, por exemplo, aos que participam de uma adoração “moderna demais”, conhecida como “celebração”. Quando assisto a uma reunião deles, sempre dizem que “é bom para mim” ou “é ruim para mim”. Mas a questão não é se é bom ou mau para MIM, mas se glorifica ou desonra a Deus. Portanto, sobre o tema da natureza de Jesus, devemos nos perguntar: Qual é a vontade de Deus? O que glorifica a Ele? Lembrem-se que estas são as perguntas adequadas, e não: O que eu necessito? Qual é a minha maneira de pensar? O que me convence mais? Ao assistir ao culto de adoração, não importa se o pianista toca bem ou mal, ou se o pregador me agrada ou é eloqüente, porque o meu objetivo deve ser adorar a Deus, e vivendo assim, sempre receberemos muito mais do que daremos. Os nossos serviços de adoração atualmente estão muito mortos, e não devido à forma, mas devido à mensagem, já que a mensagem do evangelho jamais será aborrecedora, e a maioria de nossos membros está submersa no aborrecimento e na monotonia espiritual. Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo. I João 4:1-3. Agora eu quero deixar uma coisa bem clara: existe uma compreensão correta e uma incorreta, e eu sei que vocês desejam fazer parte do grupo que “confessa que Jesus Cristo veio em carne”, mas por favor, nunca lhes ocorra de ir ao irmão que pensa de maneira diferente e lhe dizer que o seu espírito (pensamento) é do anticristo. Ninguém deve julgar a outros. No texto existe uma afirmação muito séria, e Deus deseja ansiosamente que compreendamos este ponto do evangelho que é vital: A que Cristo nós adoramos? ... Ellen White nos diz: “Se o inimigo puder levar os desanimados a desviar de Jesus os olhos, a olhar para si mesmos e ocupar-se com sua própria indignidade, em vez de considerar a dignidade de Jesus, Seu amor, Seus méritos e Sua grande misericórdia, ele lhes tirará o escudo da fé e alcançará seu objetivo; e eles ficarão expostos às suas terríveis tentações.” Primeiros Escritos, pág. 73. E ainda que digamos que cremos em Cristo vindo em “semelhança de carne do pecado” (Romanos 8:3), Satanás triunfa, já que não existe poder em nossas vidas para refletir o caráter de Jesus. Satanás está contente, podemos continuar guardando o sábado, devolvendo o dízimo, e inclusive podemos deixar de comer carne, açúcar... ou seja, podemos fazer o que é correto nas “formas”, mas todas estas coisas podem ser puro legalismo. Mas também pode ser que não, visto que é possível viver assim porque alguém deseja glorificar verdadeiramente a Cristo, e isto está muito bem. Deixar de lado um tema tão solene como este, nos manterá em nossos pecados e evitará que conheçamos ao verdadeiro Cristo. Portanto, que ninguém se sinta feliz dizendo: “Oh, não entendo do assunto, e como não entendo, não me interessa!”. Que ninguém se satisfaça alcançando o mínimo. Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-Lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a Sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos. E disse-me: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E disse-me: Estas são as verdadeiras palavras de Deus. Apocalipse 19:7-9. Isto me diz que Jesus vai ter uma esposa que será semelhante a Ele no caráter, já que Ele não irá Se casar com alguém que pense de maneira diferente da Sua. Jesus Se casará com uma esposa que pense como Ele, que tenha a Sua mente, que tenha vencido como Ele venceu, pela fé (Apocalipse 3:21), e que tenham passado pela crucifixão do “ego”. Cristo diz que estes “não amaram [ou menosprezaram] as suas vidas até a morte” (Apocalipse 12:11). Assim, a minha oração para cada um de vocês, é que possamos apreciar este maravilhoso tema à luz do amor ágape que irradia da cruz, e que esta mensagem transforma as nossas vidas e que tenhamos mais amor, sejamos mais amáveis e fiéis à verdade. -- E-mail do colaborador: EvangelhoEterno@aol.com. Fonte: Libros de 1888 Leia também:
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