Pastor Reclama que a IASD
Só Acredita Teoricamente no Espírito Santo

 

Para ele, na vida real há líderes arbitrários e emocionais que impedem a ação soberana do Espírito de Deus, porque impõem seus próprios planos à Igreja

Quem nos chamou a atenção para esse artigo publicado na última edição da Revista Adventista (março de 2003, pág. 5), foi um de nossos leitores. Ele, porém, preocupou-se com um aspecto específico, que lhe chamou mais a atenção, e deixou de perceber, ou preferiu não comentar, o que nos parece ter sido a principal mensagem do autor do texto.

No artigo da Revista Adventista deste mês de março:"A soberania do Espírito Santo", redigido por Érico Tadeu Xavier, pastor da igreja Central de Joinville, SC, encontramos as seguintes afirmações sobre o Espírito Santo no segundo parágrafo:

"O Espírito Santo é tão soberano que concede dons à igreja e os distribui de acordo com a Sua vontade (I Cor. 12:4-11). E mais: "o vento sopra onde quer" (João 3:8). O Novo Testamento diz que o Espírito Santo não somente é soberano para falar (Apoc. 2:7) interceder (Rom. 8:14), ensinar (João 14:26), guiar (Rom. 8:14), etc., mas que Ele é Deus (Atos 5:3 e 4)."

Irmão Robson, gostaria de saber qual é o seu entendimento a respeito especialmente do último texto utilizado pelo Pr. Érico para afirmar que o Espírito Santo é Deus. Atos 5:3 e 4:

"Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus."

Estou a procura sincera da verdade...

Primeiro, vamos à resposta para nosso leitor, que busca uma melhor compreensão do texto bíblico citado.

1. Caro irmão, obrigado pela consulta que nos faz acerca de Atos 5:3-4. Contudo, consideramos ser nosso dever alertá-lo primeiramente para a necessidade de tentativas pessoais e contínuos esforços individuais de compreensão do texto bíblico, sob a iluminação do Espírito de Deus, que nos promete dar sabedoria liberalmente, desde que nos aproximemos de Seu trono com a confiança de que é bom e recompensa aqueles que nEle têm fé. Imagino que o irmão esteja procedendo assim, mas fazemos questão de dizê-lo para evitar que, depois de se libertar da dependência das interpretações pastorais e denominacionais de textos bíblicos, venha a submeter-se novamente às opiniões de terceiros, através de nosso trabalho na internet. Todo homem é livre para interpretar a Bíblia por si mesmo, segundo a liberdade que Deus lhe deu.

2. Em segundo lugar, recomendamos-lhe a leitura atenta e despida de preconceitos e informações ou interpretações prévias, do texto bíblico em seu próprio contexto. Ou seja, Atos 5:3-4 deve ser entendido à luz de Atos 5 e dos capítulos que o antecedem. Convém também verificar o que dizem os Evangelhos acerca do tema, se é que o fazem. Melhor ainda será verificar o que dizem também os autores do Antigo Testamento. Assim, a compreensão se dará à luz do contexto geral das Escrituras.

Neste caso especificamente, Pedro disse a Ananias: "Não mentiste aos homens, mas a Deus." (Verso 4.) Isto é, Ananias e Safira imaginavam estar enganando apenas aos apóstolos e à comunidade de crentes, quando mentiram sobre o valor da propriedade, mas Pedro lhes informou que, de fato, haviam tentado enganar a Deus.

Ananias e Safira não estavam discutindo com Pedro se o Espírito Santo era a terceira pessoa da Trindade, ou não. Saber se o Espírito Santo era uma terceira pessoa divina não era o tema da conversa. Estavam, na verdade, sendo repreendidos por mentir. E Pedro apenas lembrou-lhes que o seu pecado era muito mais grave do que pensavam.

A prova de que não é correto inferir a existência e a divindade de uma terceira pessoa da Trindade a partir desse texto está no versículo 9: "Tornou-lhe Pedro: Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles também te levarão." Pedro identifica o Espírito Santo como o "Espírito do Senhor" e não um terceiro Deus Espírito.

No capítulo 2 de Atos, quando descreve o derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja primitiva, em momento algum Pedro dá a entender que Deus, o Pai, estaria enviando sobre os apóstolos a terceira pessoa da Trindade.

Recorde o que aconteceu, lembrando-se que não se usavam iniciais maiúsculas em grego e que a palavra traduzida por "espírito" é pneuma, "respiração, brisa, vento, fôlego". Pneumonia, por exemplo, vem dessa palavra grega:

    Atos 2:1-3: Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.

Para facilitar, faça as substituições:

    Atos 2:1-3: Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do vento santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o vento santo lhes concedia que falassem.

A explicação dada por Pedro lhe mostrará que foi exatamente isso o que aconteceu. O apóstolos ficaram cheios de um "vento santo", do fôlego de Deus, da energia divina, de um poder especial que os capacitou para evangelizar o mundo.

Versos 16-18, 32-33:

    Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão.

    ...A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.

Note, Pedro afirma que o Espírito Santo é o Espírito do próprio Senhor, que prometeu derramá-lo nos últimos dias. Ele faz essa afirmação tendo por base uma promessa divina registrada no Antigo Testamento. E acrescenta que essa promessa do Pai foi concedida ao Filho que a realizou na Igreja. Não disse que era o início de uma nova dispensação, em que uma terceira pessoa divina substituiria a pessoa do Filho. Ele se refere ao Espírito Santo como "isto que vedes e ouvis".

Tanto no livro de Atos quanto nos Evangelhos, essa promessa do Pai é explicada por Cristo como um poder, que Ele próprio comparou a um "sopro de Deus":

Lucas 24:49:

Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.

João 20:21-22:

Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.

Atos 1:8:

Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra.

3. Outra fonte de boas idéias para a compreensão de textos bíblicos são os pensamentos inspirados de Ellen White e sua equipe de redatores e pesquisadores, que reuniram em seus livros, comentários selecionados da própria Sra. White e de outros escritores sobre grande parte do relato bíblico. Embora não constituam uma interpretação infalível nem única para o texto bíblico, avaliados à luz das Escrituras, esses comentários podem ser de grande valia.

O livro Atos dos Apóstolos, por exemplo, comentando esse relato do Pentecostes afirma que os apóstolos oravam para serem habilitados a se aproximar dos homens. Suplicaram do Senhor a santa unção que os devia capacitar para o trabalho de salvar almas, o poder que Cristo prometera. Os discípulos faziam suas súplicas por esse dom. E Jesus reclamou o dom do Espírito para que pudesse derramá-lo sobre Seu povo. Eles se apossaram do dom que lhes era repartido. A bênção prometida desceu em ricas torrentes como uma comunicação do Céu de que a confirmação do Redentor havia sido feita. Cristo recebera todo o poder no Céu e na Terra, tornando-Se o Ungido sobre Seu povo.

O Espírito Santo fez por eles o que não teriam podido fazer por si mesmos em toda uma existência. Esse miraculoso dom, o poder miraculoso dos discípulos, era um direto cumprimento da profecia de Joel, onde é predita a descida de tal poder sobre homens a fim de habilitá-los para uma obra especial. "...do Meu Espírito derramarei sobre toda a carne... ...do Meu Espírito derramarei sobre os Meus servos e Minhas servas naqueles dias..." Atos 2:14-18. Essa celestial iluminação, fonte de poder e energia até então desconhecidos, era o divino poder de Cristo que lhes enchia os pensamentos com um intenso desejo de levar avante a obra que Ele tinha iniciado. Fortalecidos pela concessão do Espírito, sabiam que o próprio Deus estava com eles e nada temiam.

Observe agora no texto abaixo que o pastor Érico Tadeu Xavier, da igreja Central de Joinville, SC, nada diz sobre a Trindade e identifica o Espírito Santo como o "Espírito do Senhor" e "soberano Espírito de Deus". Quer dizer, a menos que escreva uma coisa e pense outra ou não queira se indispor com os que pensam diferente, ele entende que o Espírito que procede de Deus, o Pai, representa o próprio Deus. E então reclama mais coerência da Organização, exigindo dela que não creia apenas teoricamente na soberania divina e dê espaço para o Espírito Santo operar, sem impor arbitrariamente seus programas e projetos sobre toda a igreja, como está acontecendo com os "Pequenos Grupos" e "Go One Million". -- Robson Ramos


DONS

A Soberania do Espírito Santo

Alguns tentam usar o Espírito Santo
como se Ele fosse um computador

por Érico Tadeu Xavier

O Espírito Santo é soberano e imprevisível. Às vezes, Ele faz coisas que o hornem não entende. Certa vez, o Espírito Santo impediu e não permitiu que os apóstolos fossem para determinada localidade (Atos 16:6). Filipe, em dado momento de sua vida, ouviu do Espírito Santo a seguinte mensagem: "Aproxima-te desse carro e acompanha-o" (Atos 8:29). O resultado foi a conversão do eunuco.

O Espírito Santo é tão soberano que concede dons à igreja e os distribui de acordo com a Sua vontade (1 Cor. 12:4-11). E mais: "o vento sopra onde quer" (João 3:8). O Novo Testamento diz que o Espírito Santo não somente é soberano para falar (Apoc. 2:7), interceder (Rom. 8:26), ensinar (João 14:26), guiar (Rom. 8:14), etc., mas que Ele é Deus (Atos 5:3 e 4).

O Espírito Santo, portanto, não pode ser colocado em uma caixa ou ser programado como um computador. Ele deseja manifestar a Sua soberania e poder para atingir os não alcançados pelo evangelho eterno. E possível que os crentes se tornem arrogantes, auto-confiantes e insensíveis aos atos soberanos do Espírito do Senhor.

A igreja precisa tomar cuidado para não limitar a atuação do Soberano. As atividades da igreja devem ser as mais variadas possíveis e não poucas. Não pode focalizar uma atividade ou ministério como se isso fosse a única coisa que deve ser feita. Por exemplo, quando determinada igreja enaltece a música, a ponto de esquecer outras áreas, pode estar limitando a atuação do soberano Espírito do Senhor. Lembro-me do tempo em que eu era recém-convertido ao adventismo. O grande enfoque eram as Escolas Sabatinas Filiais. Parecia até que não existiam outras coisas a fazer.

De vez em quando, surgem programas, atividades e métodos interessantes e bons. Muitos ficam fascinados pelas novidades. Para outros, o novo é o que vale e é defendido com considerável emoção, se contrariado. Fica mais complicado ainda quando todos devem aderir ao programa, mesmo quando em determinado contexto não funciona ou não encontra receptividade.

Aqui a soberania de Deus não é respeitada. Se os membros da igreja devem encontrar realização pessoal no ministério, então devem ter ao seu dispor múltiplas opções de ministérios. A igreja também deve adaptar-se ao fato de as pessoas criarem novos tipos de ministérios nos quais possam atuar conforme os seus dons.

Mesmo os bons programas devem ser flexíveis e não rígidos, para que o Espírito Santo possa atuar e usar com criatividade os membros envolvidos no trabalho. Por outro lado, vínculos emocionais não deveriam impedir que um programa ou projeto que não esteja dando resultados em determinado contexto, seja descartado.

Se a finalidade é a colheita de almas para o Reino de Deus, os meios para atingi-la serão continuamente examinados para ver se há necessidade de ajustes.

A Igreja Adventista crê na soberania do Espírito Santo. Crê também que o Espírito Santo é missionário e criativo, que distribui dons aos membros do corpo de Cristo para serem usados em variadas atividades e ministérios.

Diante disso, a igreja não é sábia se, ao apresentar um programa de evangelização, por exemplo, desejar que todos o aceitem e o desenvolvam dentro das regras como foi preparado. A evangelização mundial só se tornará realidade quando cada membro do corpo de Cristo e cada igreja local, dentro do seu contexto, respeitar a soberania do Espírito Santo, usando os seus dons com criatividade e variadas formas.

Portanto, todos os cristãos precisam orar pela visita do soberano Espírito de Deus, a fim de que o Seu fruto apareça em todo o Seu povo. Só então a igreja se tornará um instrumento poderoso para que o mundo ouça a Sua soberana voz. -- Érico Tadeu Xavier é pastor da igreja Central de Joinville, SC.


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