Qual a Melhor Tradução:
O Verbo Era... (  )um deus?
(  ) o Deus? (  ) Divino?

"Essa questão da Trindade está provocando uma série de debates entre os irmãos da igreja que freqüento. E eu mesmo estou pessoalmente envolvido numa discussão sobre a melhor tradução para João 1:1. Acontece que um irmão muito culto e estudioso veio com uma tal "regra de Colwell" para defender a posição de que a melhor tradução é que "o Verbo era o Deus", com artigo definido na frente. Discordei dele, mas não me sinto em condição de discutir sobre aspectos gramaticais do grego. Creio que Jesus não é menos divino que o Pai, mas não aceito que seja tão divino a ponto se confundir com Ele e formar um mesmo Ser. O que você me diz acerca disso, Robson?..."

Resposta do editor:

Pode até parecer estranho, mas recomendo neste caso a leitura do livro A Trindade, que, às páginas 70 a 75, esclarece bem essa questão das possibilidades de tradução de João 1:1.

(Outra boa razão para ler o livro é a possibilidade da confirmação histórica de que o Unitarismo sempre caracterizou o povo remanescente e especialmente os pioneiros do movimento adventista. Essa informação importantíssima está nas páginas 140 a 215 e constitui uma espécie de "gol contra" da obra recentemente lançada pela Casa Publicadora Brasileira, por mais tendenciosos e desonestos intelectualmente que seus autores tenham sido. Quem lê com sabedoria e espírito crítico, percebe a Verdade resplandecer nas entrelinhas.

O livro é um documento importante na comprovação da tese de que a mais básica e fundamental doutrina de qualquer igreja, que é a sua doutrina acerca de Deus, conforme crida e ensinada pelos fundadores da IASD, foi abandonada e trocada pela crença na trindade de modo gradual até que se consolidou em anos recentes.)

Bem, voltando ao assunto e falando de modo resumido, no livro A Trindade é explicado que existem três opções possíveis de tradução para João 1:1, segundo a chamada "regra de Colwell":

Opção indefinida: "o Verbo era um deus", adotada pelos Testemunhas de Jeová, a qual, embora possível, faz de Jesus Cristo um deus de qualidade inferior ao Deus, Pai (pseudo-arianismo).

Opção definida: "o Verbo era o Deus", a qual se adotada faria de Jesus Cristo e o Pai, uma única pessoa (modalismo).

Opção qualitativa: "O nome funciona mais como adjetivo e procura traduzir algumas qualidades ou características chaves que mais claramente definem o sujeito (logos)." Exemplos citados: "o Verbo era divino" (tradução de Moffatt); "o que Deus era, o Verbo era" (New English Bible). "Descreve Jesus como alguém que compartilha da essência plena da natureza divina de Deus, o Pai."

É com essa última posição que, pessoalmente, concordo, acompanhando neste ponto os autores do livro. Pois, ao contrário do que alguns pastores dizem contra nós, cremos que o Filho de Deus é exatamente igual, ou tão divino quanto o Pai. Mas, NOTE, isso acontece por concessão do Pai que O gerou (não criou!) a partir de Si mesmo.

Parafraseando Paulo, diria que o Filho de Deus, sendo igual a Deus, expressa imagem de Seu Pai, não se agarra a essa Sua condição natural a fim de exigir para Si o lugar de Deus, ou junto a Deus, no comando do Universo. Assim, embora plenamente divino, submete-Se ao Pai, fazendo unicamente aquilo que por Ele é permitido ou ensinado.

Por isso, quando os judeus O acusaram de pretender igualar-Se a Deus por apresentar-Se como Seu Filho, Jesus deixou muito clara a sua condição de submissão ao Pai, embora houvesse igualdade de natureza divina entre Ambos. Está em João 5:18-30:

18 Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
19 Então, lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz.
20 Porque o Pai ama ao Filho, e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis.
21 Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer.
22 E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento,
23 a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou.
24 Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.
25 Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão.
26 Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo.
27 E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem.
28 Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão:
29 os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.
30 Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou.

E há muitos outros textos que poderíamos citar para demonstrar que, embora idênticos em natureza, Pai e Filho relacionam-Se de maneira amorosamente hierarquizada, a ponto de o Filho insistir: "O Pai é maior do que Eu."

"Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo." 1 Coríntios 11:3.

Robson Ramos


O objetivo de João

Também não entendo grego (aliás até o meu português é sofrível). Mas creio que a explicação de “Deus” ser um adjetivo neste caso, pode ser ilustrada por outro escrito de João. 1 João 4:8: “porque Deus é amor”. Deus não é “um amor” e nem “o amor”. Simplesmente “é amor”.

Aliás, João não escreveu o seu evangelho para provar que Jesus era a segunda pessoa de uma trindade, como ele próprio diz no capítulo 20 do seu evangelho:

Verso 30 – Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro

Verso 31 – Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo [que ele é o Messias e o Filho de Deus), tenhais vida em Seu nome.

Jarbas dos Reis Filho, Salvador, BA.


Proposta de solução em paráfrase

Robson, acho de fundamental importância para esclarecer João 1:1, o versículo em que o senhor Jesus diz: "Eu estou no pai e o Pai está em mim". Como você deve saber, o verbo ser é uma sofisticação do verbo estar e em línguas como o hebraico nem existe.

Em inglês, o verbo to be é um bom exemplo e, nesse caso, esse versículo estaria nessa forma:

In the beggining was the Word, and the Word was with God, and the Word was God.

É bom lembrar que no Apocalipse do mesmo João, carta à Igreja de Laodiceia, o Filho de Deus se apresenta como "a testemunha fiel, o amém e o princípio da criação". Paulo também o descreve assim.

Como sabemos que os manuscritos mais antigos do Novo Testamento estão nas mãos da Igreja Católica, é de se esperar que certas adaptações dos textos bíblicos tenham ocorrido nas traduções para afirmar suas crenças.

Um bom exemplo disso é o versículo em que Jesus diz ao ladrão: "Em verdade te digo, que hoje estarás comigo no paraíso." Todos nós, adventistas, concordamos que a preposição que pode ter sido mudada de posição e que sua posição correta seria atrás da palavra hoje: "Em verdade te digo hoje (presente), que estarás (futuro) comigo no paraíso."

O Senhor Deus nos havia advertido sobre esse risco em Jeremias 8:8. Portanto, eu não tenho dúvidas de que tenha acontecido algo semelhante com relação a João 1;1.

Poderia alguma preposição ter escorregado do seu devido lugar?

Para concordar com o que Jesus nos ensinou, a melhor tradução desse versículo seria assim, comparando com o inglês:

The beggining was the Word, and Word was with god, and in the Word was God.

O princípio estava o verbo, e o verbo estava com Deus e no verbo estava Deus.

Assim teríamos concordância bíblica, baseada nas palavras de Jesus: "Eu estou no Pai e o Pai esta em mim, porém o Pai é maior do que eu."

Gláucio Martins

Nota do editor:

Confesso que tive certa dificuldade em acompanhar e apreender plenamente o seu raciocínio. Suponho que o irmão esteja sugerindo uma paráfrase como solução para o entendimento de João 1:1: "O princípio [da criação de Deus] era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e, no Verbo, estava Deus." Seria isto? Particularmente, depois de alguma pesquisa a respeito, proporia que a tradução fosse: "No princípio, havia o Verbo, e o Verbo estava em Deus e o Verbo era divino." Mas essa é uma tese que mereceria ser melhor aprofundada e comprovada. -- Robson Ramos


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