Trindade: Apenas um Paradigma Teológico

Olá! Regressei da Rússia e deparei-me com este tema.

O irmão incorre em vários erros. O primeiro, gravíssimo, consiste em assumir que "que milhares de pessoas sinceras, podem estar irremediavelmente condenadas se isto for uma verdade". Somos salvos por Cristo, um vínculo pessoal, e jamais por qualquer doutrina ou dogma.

Em segundo lugar, tampouco é seguro  que Ellen nunca tenha subscrito a doutrina da Trindade. É correcto que muitos (mas não todos!) dos pioneiros eram semi-arrianos e nalguns casos até arrianos.

A primeira referência positiva à trindade, na literatura adventista do 7º dia aparece no Bible Student's Library series, em 1892. Destinados ao público, o panfleto 90 titula-se "The Bible Doctrine of the Trinity". O autor foi Samuel Spear que não era adventista. De facto, o folheto era a reimpressão de um artigo que apareceu no New York Independent, de 14 de Novembro de 1889. Não expressava a posição oficial da Igreja, mas consentiu-se publicar.  

A reviravolta chegou com o artigo da irmã White "Christ the Life-giver" no Signs of the Times, em 1898. Ao comentar João 10:18, ela escreve: "In Him was life, original, unborrowed, underived". Também no The desire of Ages, Ellen ao comentar João 8:58 diz expressamente que "...Galilean Rabbi. He announced Himself to be the self-existent One, ...(cita-se depois Miqueias 5:2) (The desire of Ages, 469-470).Portanto, Jesus era o "Eu Sou". No mesmo livro, no capítulo sobre Lázaro, Ellen repete "In Christ is life, original, unborrowed, underived" (p.530). Portanto, em tudo igual ao Pai. Ellen diz isso mesmo: "He was equal with God, infinite and omnipotent...He is the eternal self-existing Son" Manuscript 101, 1897; Manuscript Release, 12:395.

O asunto dava para escrever um livro, mas penso ter ajudado o irmão.

Queria todavia colocar ênfase noutro tema essencial, a saber, que a irmã White nunca teve autoridade teológica. As doutrinas estabelecem-se pela Bíblia e tão-só por ela. De facto, o adventismo evoluiu pouco a pouco até subscrever a Trindade. É inclusive possível que a irmã White não fosse trinitária apesar de ter escrito o que se transcreveu acima; mas sine dubio que assumia como coisa absolutamente certa a divindade plena do Filho. A subordinação do Filho ao Pai tem mais que ver com a economia da salvação, e segundo se lê aos Coríntios, parece que Jesus permanecerá sempre nesse estado, a nosso lado (...então também o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos).

A trindade é uma simples referência humana (de Deus), quer dizer, desde a perspectiva do "lado de cá" e do "mistério de Jesus". É a expressão teológica desse Deus que estava no céu e contudo caminhava por Palestina. Portanto, não passa de um paradigma teológico para falarmos de Deus. O que importa, volto a salientar, é a relação com esse Deus através do Filho, no Espírito.

Ernesto Sarmento

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