Comentários de Jones e Waggoner para a Lição 8: "A Lei da Aliança"

 

Porque esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor: Porei as Minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei; e Eu lhes serei por Deus, e eles Me serão por povo... Porque serei misericordioso para com suas iniqüidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não Me lembrarei mais - Hebreus 8:10-12

 

A mesma lei que fora gravada em tábuas de pedra, é escrita pelo Espírito Santo nas tábuas do coração. Em vez de cuidarmos em estabelecer nossa própria justiça, aceitamos a justiça de Cristo. Seu sangue expia os nossos pecados. Sua obediência é aceita em nosso favor. Então o coração renovado pelo Espírito Santo produzirá os “frutos do Espírito”. Mediante a graça de Cristo viveremos em obediência à lei de Deus, escrita em nosso coração. Tendo o Espírito de Cristo, andaremos como Ele andou. Pelo profeta Ele declarou a respeito de Si mesmo: “Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu; sim, a Tua lei está dentro do Meu coração.” Sal. 40:8. E, quando esteve entre os homens, disse: “O Pai não Me tem deixado só, porque Eu faço sempre o que Lhe agrada.” João 8:29 - Patriarcas e Profetas, pág. 372

A lei e o trono de Deus – Lemos que “justiça e juízo são a base do Seu trono” (Salmo 97:2). Em Seu trono habita a justiça. É ela o seu próprio fundamento. A lei de Deus é justiça, Sua própria justiça. No capítulo 51, versos 6 e 7 de Isaías, Deus diz: “Ouvi-Me, vós que conheceis a justiça, vós, povo em cujo coração está a Minha lei...” Somente conhecem Suja justiça aqueles em cujo coração está a Sua lei, de maneira que a lei de Deus é sua justiça. A afirmação de que a justiça é o assento (como dizem algumas traduções) ou fundamento de Seu trono,  implica que a lei de Deus está em Seu trono. Ele está assentado sobre o trono da justiça.

O trono de Deus e o Sinai – Já verificamos que a lei de Deus é o fundamento de Seu trono. Essa afirmação não deveria surpreender a ninguém, pois o fundamento de qualquer governo é sua lei, e o trono representa simplesmente essa lei. 

Ao ser dada a constituição do Universo, o monte Sinai foi o assento da lei de Deus. Representava o terror da lei, porquanto ninguém podia tocar o monte sem ser fulminado. Ali estava o Senhor com todos os Seus anjos (ver Deuteronômio 33:2 e Atos 7:53). Portanto, quando a lei foi dada, o monte Sinai representava o trono de Deus naquela ocasião. Dele procediam “relâmpagos, trovões e vozes” (Apocalipse 4:5), e ao redor do qual reuniam-se miríades de miríades, milhões e milhões de anjos. Vemos, uma vez mais que a justiça que habita o trono de Deus é a mesma descrita nos Dez Mandamentos, tais como foram proclamados no Sinai e registrados em Êxodo 20:3-17.

O trono da graça – Embora o trono de Deus seja o escrínio de Sua lei – lei que significa morte para os pecadores – é ele também o trono da graça. Somos exortados a nos achegarmos confiadamente junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4:16). Veja, amigo leitor, que devemos nos aproximar para alcançar misericórdia. A cobertura da arca do concerto  era chamada propiciatório, o lugar da misericórdia. Era o lugar desde o qual Deus falava com Seu povo, porque a arca do santuário terrestre não apenas representava o trono onde se encontrava a lei, mas também o trono da graça.

A lei e o mediador – É-nos dito que a lei foi dada “pela mão de um mediador” (Gálatas 3:19) Quem era o mediador por cuja mão a lei foi outorgada? “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a Si mesmo Se deu em resgate por todos...” (I Timóteo 2:5 e 6) A lei, por conseqüência, foi dada no Sinai pelo próprio Cristo, que é e sempre foi a manifestação de Deus ao homem. Ele é o mediador, isto é, Aquele mediante quem as coisas de Deus são transmitidas aos homens. Através de Jesus Cristo confere-se ao homem a justiça de Deus. A declaração de que a lei foi dada pela mão de um Mediador nos lembra que onde sobeja o pecado, a graça o excede em muito.

O fato de que a lei tenha sido dada no Sinai pela mão de um Mediador, indica:

1)     Que Deus tomou providências para que ninguém supusesse que poderia obter a justiça a partir da lei, por sua própria força, mas somente através de Cristo.

2) Que o evangelho de Cristo foi desdobrado no Sinai, tanto quanto no Calvário.

3) Que a justiça de Deus revelada no evangelho de Cristo, é idêntica à justiça descrita na lei dada no Sinai. É a mesma justiça que obtemos em Cristo. - Ellet J. Waggoner, Carta aos Romanos, págs. 58 e 59

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Jesus, "nascido sob a lei"- "Cristo Jesus... sendo em forma de Deus... esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens". Filipenses 2:5-7. Foi feito semelhante aos homens, como os homens são, precisamente onde estes estão.

"O Verbo Se fez carne" [João 1:14]. "Participou das mesmas coisas" [Hebreus 2:14], da mesma carne e sangue de que os filhos dos homens são participantes, na condição em que estão desde que o homem tinha caído no pecado. E assim está escrito que "vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho... nascido sob a lei" [Gálatas 4:4].

Estar debaixo da lei é ser culpado, condenado, e sujeito à maldição. Já que está escrito: “sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus”. Isto é assim "porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". Romanos 3:19, 23; 6:14.

A lei e a maldição - E a culpa do pecado traz a maldição. Em Zacarias 5:1-4, o profeta contemplou  "um rolo volante [ou seja, que voava]... que tem vinte côvados de comprido e dez côvados de largo". O Senhor lhe disse: "esta é a maldição que sairá pela face de toda a Terra". E qual é a causa desta maldição que sai sobre a face de toda a Terra? Esta: "porque qualquer que furtar, será desarraigado, conforme está estabelecido de um lado do rolo; como também qualquer que jurar falsamente, será desarraigado, conforme está estabelecido do outro lado do rolo".

O rolo é a lei de Deus. O texto cita um mandamento de cada uma das tábuas, mostrando que ambas estão incluídas. Todo aquele que rouba -que transgride a lei no que se refere à segunda tábua- será destruído, de acordo com esta parte da lei, e todo aquele que jura -transgride em relação à primeira tábua da lei- será destruído, de acordo com esta parte da lei.

Os anotadores celestiais não necessitam escrever um registro a respeito dos pecados particulares de cada um; é suficiente anotar no rolo referente a cada homem, o mandamento particular que foi violado em cada transgressão. Que este rolo da lei acompanha a cada um, onde quer que ele vá, até permanecer em sua própria casa, é demonstrado por estas palavras: “Eu a farei sair, diz o Senhor dos Exércitos, e ela entrará na casa do ladrão, e na casa do que jurar falsamente pelo Meu nome; e permanecerá no meio da sua casa” [verso 4].

E a menos que encontre um remédio, este rolo da lei permanecerá ali até que a maldição consuma a este homem e a sua casa, "com a sua madeira e com as suas pedras" [verso 4] devore a Terra naquele grande dia em que os elementos, ardendo, serão desfeitos. Já que "o aguilhão da morte é o pecado", e a maldição do pecado, "a lei". I Coríntios 15:56; Isaías 24:5 e 6; II Pedro 3:10-12.

Jesus, feito maldição por nós - Mas felizmente, “Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei”. Gálatas 4:4 e 5. Vindo como o fez, trouxe redenção a cada alma que se encontra debaixo da lei. Mas a fim de trazer perfeitamente esta redenção àqueles que estão debaixo da lei, Ele mesmo tem de vir aos homens precisamente ali onde estes se encontram, a da forma em que se encontram, debaixo da lei.

Tudo isto, Jesus assumiu, já que nasceu "sob a lei"; foi feito "culpado"; foi feito condenado pela lei; foi "feito" tão culpado como é todo homem que está debaixo da lei. Foi "feito" debaixo da condenação, tão plenamente como é todo homem que tenha violado a lei. Foi "feito" debaixo da maldição, tão completamente como tenham sido ou possam ser qualquer outro homem neste mundo, "porque o pendurado [no madeiro] é maldito de Deus". Deuteronômio 21:23.

Mas mantenha-se sempre presente que em tudo isto, "foi feito" [alusão a Filipenses 2:7: "fazendo-Se semelhante aos homens"]. Em Si mesmo, Ele não era nada disso por defeito inato, mas "foi feito" tudo isto. E tudo quanto foi feito, fez por nós: por nós que estamos debaixo da lei; por nós que estamos debaixo da condenação pela transgressão da lei; por nós que estamos debaixo da maldição por haver jurado, mentido, matado, roubado, cometido adultério, e todo outra infração do rolo da lei, este rolo que vai conosco e que permanece em nossa casa.

Foi feito debaixo da lei, para remir os que estão debaixo da maldição, POR CAUSA de estar debaixo da lei.

Vitória através de Cristo - Levando a culpa, estando debaixo da condenação, e desta forma, debaixo do peso da maldição, Jesus, durante toda uma vida neste mundo de culpa, condenação e maldição, viveu a perfeita vida da justiça de Deus, sem pecar absolutamente jamais. E todo homem conhecedor da culpa, condenação e maldição do pecado, sabendo que Jesus realmente sentiu em Sua experiência tudo isto precisamente como o homem sente, se além disso, este homem crê em Jesus, poderá conhecer por experiência própria a bênção da perfeita vida de justiça de Deus em sua vida, que o livra da culpa, condenação e maldição, manifestando-se ao longo da sua vida, guardando-lhe de pecar. - Alonzo T. Jones, O Caminho Consagrado à Perfeição Cristã, págs. 20-22

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Comentários Adicionais

1) A lição afirmou:

Quando se pensa no que é uma aliança, faz sentido pensar que a lei é uma parte integrante dela. Se entendermos a aliança, entre outras coisas, como uma relação, precisa ser traçado algum tipo de regras e limites. Quanto tempo duraria um casamento, amizade ou sociedade de negócios se não houvesse limites ou regras, expressos especificamente ou subentendidos? O marido decide namorar outra, o amigo decide tirar proveito da carteira do outro, ou o sócio, sem combinar com a outra parte, convida outra pessoa para se juntar à sociedade. Esses atos seriam uma violação de regras, leis e princípios. Quanto tempo durariam essas relações nessas circunstâncias sem leis? É por isso que precisa haver limites, linhas especificadas e regras estabelecidas. Só assim a relação pode ser preservada.

Aqui parece estar dando a noção da Aliança como um acordo, principalmente quando usa o exemplo de uma sociedade de negócios, onde geralmente o que acontece é uma relação de troca (um sócio cumpre o seu lado no contrato e o outro cumpre o seu – reciprocidade). Os exemplos de amizade e casamento são mais adequados à Aliança Eterna de Deus para conosco: Tanto numa verdadeira amizade quanto num casamento, as relações são mantidas não porque existe uma convenção social ou lei, mas sim por causa do “amor”. O verdadeiro amigo não rouba seu companheiro não porque existe uma regra que proíbe, mas porque o ama e quer o seu bem. O cônjuge não trai o outro não porque existe uma lei contra isso, mas porque o ama e jamais faria algo para feri-lo. Mesmo que não existisse uma lei por escrito que diz não adulterarás, o cônjuge não pensaria em trair, pois dentro do seu coração existe uma lei (lei do amor) que tornaria isto inadmissível. A existência da lei apenas confirma e vai ao encontro com as intenções do coração. Em Jeremias 31:33 foi isto que Deus estava dizendo ao povo quando falou de uma “Nova Aliança” onde a Sua lei seria escrita no coração.

2) A lição afirmou:

Um relacionamento requer acordo e harmonia. Visto que Deus não é só o Criador do mundo, mas também seu Governador moral, a lei é essencial para a felicidade de Suas criaturas inteligentes a fim de viverem em harmonia com Ele. Sua lei, a expressão de Sua vontade, portanto, é a constituição de Seu governo. É naturalmente a norma ou obrigação do acordo na relação da aliança.  

Novamente a lição ao colocar aqui que a lei é a obrigação do “acordo” na relação da aliança, dá margens ao pensamento errôneo de que a Aliança de Deus é um acordo entre Deus e o homem: Deus promete salvação ao homem caso este em contrapartida lhe conferir obediência. Sendo que a realidade bíblica da Aliança é a promessa que Deus faz ao homem com a finalidade de salvá-lo, e a obediência é conseqüência do cumprimento desta promessa.

3) A lição afirmou:

Era e é propósito da relação de aliança levar o crente, pela graça transformadora de Deus, a estar em harmonia com Sua vontade e caráter.

Aqui sim temos uma declaração mais consistente com a Aliança de graça em Sua relação para com a lei.

4) A lição mencionou os seguintes versos bíblicos:

Multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e lhe darei todas estas terras. Na tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra; porque Abraão obedeceu à minha palavra e guardou os meus mandados, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis. (Gênesis 26:4-5)

Obedecer = (heb) shamah  ;  Guardar = (heb) shamar

Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; (Êxodo 19:5)

Ouvir = (heb) shamah  ;  Guardar = (heb) shamar : As duas palavras possuem o sentido de ouvir, considerar, dar atenção, acatar, manter, cuidar, cultivar (Gên.2:15), vigiar, observar, apreciar. Não é o termo habitual que se usa para “obedecer” no sentido de “fazer”. O Senhor estava pedindo para que eles considerassem atentamente a promessa feita, cuidassem por mantê-la sempre na memória, vigiassem para não esquecê-la, apreciassem Sua iniciativa. “Obedecer” no sentido de “fazer” não caberia aqui porque até então o Senhor não tinha pedido nada para eles, mas apenas lembrado de sua promessa e feitos a favor deles (Êxodo19:4). Esta evidente que o Senhor estava propondo renovar a Aliança Eterna da justiça pela fé pronunciada no Éden (Gênesis3:15) e repetida a Abraão.

5) A lição afirmou:

Êxodo 19:5 deixa claro: "Se... ouvirdes." É inegável o aspecto condicional da aliança; embora tenham sido dadas pela graça, embora sejam imerecidas, embora fossem um presente para eles, as promessas da aliança não eram incondicionais. O povo poderia rejeitar o presente, negar a graça e abandonar as promessas. A aliança, como acontece com a salvação, nunca anula o livre-arbítrio. O Senhor não força as pessoas a entrarem em relação de salvação com Ele; Ele não impõe uma aliança. Ele a oferece gratuitamente a todos; todos são convidados a aceitá-lo. Israel devia obedecer, não a fim de obter as promessas, mas para que as promessas se cumprissem nele. Sua obediência era uma demonstração do que é ser abençoado pelo Senhor. A obediência não compra as bênçãos, como se Deus fosse obrigado a dá-las; a obediência, ao contrário, cria um ambiente onde a bênção da fé pode se manifestar.

Talvez ficasse mais claro se a frase “É inegável o aspecto condicional da aliança” fosse alterada para “É inegável o aspecto condicional das bênçãos plenas da aliança”. E também a frase “as promessas da aliança não eram incondicionais” pela frase “as bênçãos plenas da aliança não eram incondicionais”.

O exemplo a seguir nos ajudará a entender um pouco melhor esta questão:

Em 1863, Abraão Lincoln assegurou, a todo escravo pertencente aos territórios confederados, a liberdade. Do ponto de vista legal a liberdade já havia sido disponibilizada. Para Abraão Lincoln e se dependesse de sua vontade somente, todo escravo em território confederado já estava livre. Só que do ponto de vista do escravo, ele só iria se beneficiar do ato de Abraão Lincoln e desfrutar a liberdade se ouvisse, acreditasse e começasse a viver em liberdade.

Traçando um paralelo entre a libertação dos escravos por Lincoln e a salvação em Cristo, temos que a Aliança ou Promessa equivale ao ato de Lincoln assinar a lei que libertaria os escravos. Tal ato não depende em nada dos escravos. Cristo decretou nossa liberdade do pecado mediante Sua Aliança/Promessa concretizada na cruz, e tal ato de Sua parte independe de nossa fé. É neste sentido que Cristo é o “Salvador do mundo” (João 4:42; I João 4:14). Agora, da perspectiva do escravo, ele só desfrutaria das bênçãos plenas daquilo que Lincoln fez se não recusasse a dádiva. O pecador só desfrutará das bênçãos de uma nova vida em Cristo se não recusar Sua dádiva.

É por este motivo que Paulo em I Timóteo 4:10 afirma: “Pois para isto é que trabalhamos e lutamos, porque esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis”.

A palavra grega usada para “principalmente” é “malista” que significa “em especial”, “especialmente”, “com plena efetividade”, etc. (Ver Gálatas 6:10 onde a mesma palavra grega aparece). O Deus vivo é o Salvador (Libertador) de todos os homens, mas com plena efetividade na vida daqueles que não rejeitaram (creram, aceitaram). -- Seleção: Matheus. E-mail: EvangelhoEterno@aol.com.

 

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