Que Indiana Jones que Nada, Dr. Rodrigão é que é o Cara!

Em suas escavações, o Dr. Rodrigo P. Silva pode ter encontrado um pedaço de pedra com escrita cuneiforme, ou fragmento de pergaminho miraculosamente preservado, onde Adão fala de suas memórias e registra suas primeiras palavras e as primeiras palavras que ouviu:

“Imagine Adão abrindo os olhos e perguntando: ‘Quem sou eu?’ Podemos imaginar que o rosto sorridente do Criador revelado em Jesus fora a primeira coisa que ele viu. Respondendo à sua indagação, o Filho de Deus deve ter dito: Nós, a Santíssima Trindade, criamos você porque o amávamos antes que você existisse.” Rodrigo P. Silva, Mestre em Teologia pelo CES – Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus, especializado em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, e Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Faculdade Católica N. S. Assunção – São Paulo, SP, em Abrindo o Jogo – Ética cristã em um mundo pós-moderno capítulo 2, “A lei do retorno ao paraíso”, pág. 68.

Isto não seria a maior de todas as descobertas arqueológicas de todos os tempos?  ...Mas minha preocupação é com a ética dos que escrevem livros, e misturam uma informação que absolutamente não faz sentido em uma história que, vinha sendo dito, era baseada na Bíblia. Isto é ético? Responda, doutor, isto é ético?


Sou pai de três alunos que estudam em um internato adventista. O maior está agora no primeiro ano do ensino médio. Sempre procuro ver o que andam ensinando aos meus filhos. Esta semana, passei os olhos no livro de educação religiosa para o ensino médio: “Abrindo o Jogo – Ética cristã em um mundo pós-moderno”, do doutor Rodrigo P. Silva.

De “passar os olhos”, acabei lendo o livro todo. É muito bom.

“Será que ele me ama ou só quer transar comigo?”

 “Será que sou menos homem, só porque meu pênis não mede 13 cm?”

“A moça está provocantemente semi-vestida e o entregador de pizza é um verdadeiro ‘Don Juan’ misturado com sangue de Rambo”. (pág. 123)

Fora do devido contexto, as frases acima parecem inadequadas para um livro de educação religiosa. Mas o autor não fez o livro para adultos conservadores, a linguagem é para adolescentes, que justo nesta idade entram coletivamente no “cio”. No contexto não há “baixo nível”, pelo contrário, a meninada é induzida a questionar o que a televisão e a sociedade passam como valores e verdades. E ensina, em linguagem clara, o que a Bíblia diz. Antigamente os livros se limitavam a contar histórias bíblicas. O doutor Rodrigo traz os ensinamentos da Bíblia para o dia a dia dos adolescentes. Ele escreve muito bem, fala de eutanásia, aborto, projeto genoma, ecologia, sexo entre adolescentes, namoros, fossa após um fora da namorada, o ato de “ficar”, funkeiros, metaleiros e psicodélicos, depressão, idolatria aos artistas, etc. Mas sempre mostrando como em meio a toda esta confusão, a lei de Deus nos protege.

O que mais me agradou é que ele não se limita a dizer, “isso aqui é o certo”. Procura levar o adolescente a pensar por si mesmo. Isto não é comum, principalmente nas igrejas. Escreve o livro sabendo que terá também leitores de outras religiões e ateus. E introduz as principais doutrinas adventistas, de forma não agressiva. Argumenta. Traz informações históricas, arqueológicas, latim, grego e hebraico sem ser maçante.

Comparado a outros livros para a mesma faixa, pareceu-me uma obra de alto nível. O doutor Rodrigo é identificado no livro como Mestre em Teologia pelo CES – Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus, especializado em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém, e Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Faculdade Católica N. S. Assunção – São Paulo, SP. Há alguns anos, esteve no programa do Jô Soares, fiquei feliz ao ver minha igreja sendo tão bem representada.

Ele leciona também filosofia. “Em lógica (matéria do curso de filosofia) aprendemos que a contradição não é inteligível por isso não pode ser assimilada pela mente humana. Uma coisa não tem como ser ao mesmo tempo quente e fria, líquida e sólida, azul e amarela. Ela até poderá ter partes num estado e partes noutro, mas não tudo ao mesmo tempo”.(pág. 97)

 

Hamurabi e o Grande Conflito

Os ateus costumam menosprezar a Bíblia, e dizem que a Lei de Deus é apenas plágio do “Código de Hamurabi”.  No livro, há um capítulo só sobre Hamurabi. Aproveitei para aprender, também:

“O Deus Marduk salvou os seres celestiais lutando contra o mal simbolizado num monstro chamado Tiamat. Após sua vitória, ele teria sido aclamado no Céu como supremo senhor de todas as coisas”.

“Não é interessante como essa primitiva versão babilônica tem pontos em comum com o que é ensinado na Bíblia?” (a seguir, ele fala da luta de Miguel com Satanás em Apoc. 12: 7-12).

“Agora vamos usar raciocínio lógico. Supondo que seja verdade que ocorrera uma guerra no céu entre Jesus e Satanás, e supondo ainda que Adão foi um personagem real, podemos concluir teoricamente que Adão ouviu do próprio Deus essa história e contou para seus filhos. Estes, por sua vez, foram passando a tradição, que aos poucos foi sendo modificada pelo acréscimo de mitos e idolatria pagã. Se for assim, o que Hamurabi teria descoberto eram vestígios da história do grande conflito que hoje está parcialmente preservada na Bíblia Sagrada (há detalhes que infelizmente se perderam, mas nosso Deus conservou aquilo que era mais necessário para nossa salvação)”.(pág. 73).

Li o livro no sábado à tarde, e no culto de pôr-do-sol, comentei sobre a qualidade do mesmo. Pedi a um dos meninos que lesse uma das histórias do livro. Parabéns ao doutor Rodrigo. Além de ensinar religião, seu trabalho visa formar bons cidadãos. Honestidade, lealdade, respeito... Na página 135, há a história dos monges que pregaram uma peça em Tomás de Aquino. “Quando todos comiam, um monge mais jovem entrou correndo, anunciando ter visto um burro voando do lado de fora do refeitório. Tomás de Aquino levantou-se rapidamente para ver o animal voador, enquanto todos davam gargalhadas de sua “ingenuidade”

-- Como é que um teólogo tão inteligente como o senhor pôde acreditar que havia mesmo um burro voando lá fora? – perguntou um dos monges. – Ora – respondeu ele – preferi acreditar que havia mesmo um burro voando a acreditar que um monge mentiu!”

Alguns amigos meus, adventistas, alertam-me que há escolas com ensino melhor. Mas fico emocionado quando vejo os três com o uniforme da escola adventista. Eles estão em contato com professores que são exemplos de honestidade e ética. E estudam em bons livros, como este, do doutor Rodrigo. Eu não arriscaria o futuro deles se não confiasse neste sistema educacional.

"Nós, a Santíssima Trindade..."

Voltando ao livro de ensino religioso.

No capítulo 2, “A lei do retorno ao paraíso”, pág. 68, aparece o tema da criação:

“Imagine Adão abrindo os olhos e perguntando: ‘Quem sou eu?’ Podemos imaginar que o rosto sorridente do Criador revelado em Jesus fora a primeira coisa que ele viu. Respondendo à sua indagação, o Filho de Deus deve ter dito: Nós, a Santíssima Trindade, criamos você porque o amávamos antes que você existisse.

Faz sentido esta afirmação. Para um ser humano que já surgiu adulto, com o cérebro plenamente formado, é razoável supor que sua primeira pergunta fosse exatamente essa. Quem sou eu? O que faço aqui?

Também é razoável que o Criador se apresentasse. E depois de se identificar, explicasse outras coisas. Como o Sábado, por exemplo. Deus descansou, abençoou e santificou. Adão deve ter recebido a explicação do porque de um dia de repouso, e passado adiante. E Adão viveu muito. Passaria esta mensagem a netos, bisnetos, tataranetos, tatatatataranetos...  As pessoas que seguiam a Deus não perderiam esta mensagem. Concorda, doutor Rodrigo?

Sim, o doutor Rodrigo concorda. Este é o ensinamento oficial da IASD. O Sábado, assim como o casamento, é uma instituição que vem desde o Éden. Não ficou perdido no tempo. E a história da criação, da queda, também seria passada de geração a geração. Sabe-se quantos anos viveu e quantos filhos gerou cada patriarca. Sabe-se a história do dilúvio e da torre de Babel. Os pais contavam aos filhos, estes aos netos... claro, à medida que as pessoas se afastavam de Deus, mitos e lendas iam sendo incorporados.

O autor do livro, competente arqueólogo, mostra como persistiu em diversas culturas a história do dilúvio. Mas, sempre houve aqueles que serviam ao verdadeiro Deus. É de se esperar que estes contassem a história correta aos seus filhos. Melquisedeque adorava ao Altíssimo. E, mesmo que alguns detalhes se perdessem, o Sábado era o memorial da criação. Era o dia de lembrar o Criador. Na ausência de uma Bíblia para ler, sobre o que eles meditariam? Muito provavelmente, sobre a história da Criação e o que Deus dissera a Adão, o que a serpente disse a Eva... Muitas coisas se perderiam, mas, segundo afirmou o doutor Rodrigo, “Deus conservou aquilo que era mais necessário para nossa salvação” (pág. 73). Isto inclui sua lei. “É óbvio que a lei já existia há muito tempo e até Abraão a conhecia” (pág. 80)

Chegou o dia, no Sinai, em que JHVH escreveu sua Lei em tábuas de pedra.

Não terás outros deuses diante de MIM”.

Fala, doutor Rodrigo:

 “O Deus verdadeiro é único. Não existem outros que sejam reais, muito menos dignos de nossa adoração religiosa”. “Na famosa oração do Shemá Israel os judeus aprendiam a repetir constantemente que 'O Senhor é o único Deus' (Deut. 6-4)” “Essa mesma idéia foi muitas vezes repetida nas páginas do Antigo Testamento. Veja, por exemplo, Oséias 3:1 e 13:13. Lá, o Senhor explica que Ele é o único Deus existente e que não houve outro antes nem haverá depois dEle”. (pág. 89)

Mas, Eles não se apresentaram a Adão como a Santíssima Trindade?

 

Doutor Rodrigo...       

São adolescentes, todos eles. Crianças ainda. Não possuem julgamento crítico suficiente. Receberão a sua afirmação como totalmente verdadeira. E dificilmente encontrarão por si mesmos, em seu livro, o argumento para mostrar que a afirmação é um absurdo. Mas está lá. Doutor Rodrigo afirma que é, doutor Rodrigo mostra que não é. Sim, pois se a tradição foi passada, se o que Hamurabi escreveu foi o que os descendentes de Adão ouviram do próprio Adão, e como A PRIMEIRA coisa que Adão ouviu e viu - nada mais importante, definitivamente gravado em sua memória - (era um cérebro adulto, mas livre de memórias passadas...)

Ali, em primeiro plano, estava a informação: “Nós, a Santíssima Trindade, criamos você”. Porque Adão esconderia esta informação dos seus descendentes? Como você nasceu, Adão? Ah, eu não nasci, como vocês. A Santíssima Trindade, Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo, (sendo este uma pessoa pessoal, pois só uma pessoa pode pairar sobre face do abismo) me criaram.

A história da criação, o Sábado, a história da queda, tudo foi preservado até Moisés. A lei já existia, foi apenas escrita nas tábuas de pedra. Não terás outros deuses diante de MIM. Se Adão conhecia a doutrina da Santíssima Trindade, porque não passou esta informação importantíssima? E porque Deus não a preservou? Não era necessária para nossa salvação? O que o senhor disse, caro doutor? “Nosso Deus conservou aquilo que era mais necessário para nossa salvação”.

E essa informação, não é importante para nossa salvação? Se não é, porque cortam, perseguem, discriminam e menosprezam os que se recusam a acreditar? Porque os professores que passam a lição, fazem questão de afirmar que crêem piamente na Trindade (não o fazem, por exemplo, no mesmo tom para dizer que crêem na ressurreição de Jesus). Falam em tom mais alto, diferente, como se alguém os estivesse observando... como se lá fora, fogueiras começassem a arder... brrr...

 

Ética cristã em um mundo pós moderno?

Ética cristã em um mundo pós-moderno: “Nós, a Santíssima Trindade, criamos você”. “Não terás outros deuses diante de Nós”.

“Uma coisa não tem como ser ao mesmo tempo quente e fria, líquida e sólida, azul e amarela”, afirma o doutor Rodrigo. “Em lógica aprendemos que a contradição não é inteligível por isso não pode ser assimilada pela mente humana”, diz o escritor. Mas o professor que passou a lição disse que Deus é como a água, sólido, líquido e gasoso. Tudo ao mesmo tempo, é claro. São três, mas é apenas um. Três é um. Como a mente humana pode assimilar isso? Na idade média, a fogueira era uma forma didática excelente para convencer. Hoje, proibido matar, serve o desmerecimento, o deboche, a exclusão.

O arqueólogo afirma que a Divindade deve ter se apresentado a Adão como a “Santíssima Trindade”. Afirma também que, o que Adão ouviu de Deus, foi passado às gerações posteriores. Afirma também, e prova, que a Lei já era conhecida antes do Sinai. Mas, no Sinai, e dali por diante, não terás outros deuses diante de MIM. Os israelitas daquela época, cem anos depois, mil anos depois, dois, três mil anos depois, continuam a entender único como único, não como três.

Seriam todos eles uns idiotas? Seria o povo escolhido, amado por Deus, formado por idiotas, e nós é que somos os inteligentes? Moisés, Davi, Salomão (e este, teria a metade da sabedoria do doutor José Carlos Ramos?) Daniel, Isaías, Jeremias, Zacarias, Lucas, Paulo... todos uns pobres ignorantes. Nós é que somos os bons. Pois ninguém, nunca, entre o povo que preservou a história da criação, jamais ouviu falar da Santíssima Trindade. Tal informação simplesmente não existia entre eles. Nem entre os povos vizinhos. Nem em lugar nenhum.

No Novo Testamento, Deus voltou a inspirar vários escritores, mas nenhum deles recuperou esta valiosa informação, que, a primeira coisa que o ser humano criado a imagem de Deus ouviu do criador foi “Nós somos a Santíssima Trindade e criamos você”. E a Bíblia terminou de ser escrita, e do início ao fim a informação é a mesma. Há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, os outros santos que nos perdoem.

Mas, na Revista Adventista de Julho 2005, págs 14 a 16, um eminentíssimo arqueólogo localizou versículos que Deus esqueceu de incluir na Bíblia!

Agora, temos isto. Adão, ao abrir os olhos, viu seu Criador, e a primeira informação que teve, foi “Nós, a Santíssima Trindade”...

 

De onde o grande arqueólogo tirou isso?

Há uma explicação possível. Em suas escavações, ele pode ter encontrado um pedaço de pedra com escrita cuneiforme, ou fragmento de pergaminho miraculosamente preservado, onde Adão fala de suas memórias, e esta informação que não entendeu direito, (e ninguém entende mesmo) achou por bem não passar adiante. Isto não seria a maior de todas as descobertas arqueológicas de todos os tempos? Não é coisa para o Jô Soares, é direto para o Fantástico! Que Indiana Jones que nada, Rodrigão é que é o cara! (perdoe-me, pastor Rodrigo, mas não resisti e usei a sua própria “linguagem para adolescentes”)

Tenho deixado meus filhos à vontade na Escola, onde a Trindade lhes é ensinada, tanto de forma sutil como explícita. Não faço doutrinação contrária.  Em outras escolas, ou aprenderiam também a Trindade, ou ateísmo. Também não fiz, junto às crianças, nenhuma crítica ao livro, que tirando este pequeno detalhe, é excelente. Eles sabem que precisam acreditar na Bíblia, não nos teólogos.

Minha preocupação é com a ética dos que escrevem livros, e misturam uma informação que absolutamente não faz sentido em uma história que, vinha sendo dito, era baseada na Bíblia. Os alunos vão aceitar isso como verdade universal verdadeira. O que é isso? Aproveitar-se de uma situação de confiança para introduzir uma doutrina particular. Isto é ético? Responda, doutor, isto é ético? São adolescentes. Eles acreditam. Se lhes é incutida uma dúvida, podem desacreditar de todo o resto. É esta a ética para um mundo pós-moderno? Talvez, então, devêssemos reintroduzir a ética do mundo pré-moderno. Do tempo em que professores ensinavam o que criam, e os pastores é que eram perseguidos por ensinar o evangelho, e não os perseguidores que são hoje.

Mas pode haver uma outra explicação. O arqueólogo teria encontrado, não um fragmento de pergaminho de milhares de anos, mas sim um pequeno bilhete do editor lembrando para incluir no livro a doutrina da Trindade, já que é preciso começar a doutrinar as crianças desde cedo, quando as mentes são mais suscetíveis a aceitar contradições lógicas.

Então. Fiquei pensando em imitar Tomás de Aquino e ir lá fora ver se via algum burro voando, já que isto seria mais fácil que um teólogo faltar com a ética. Mas nestes tempos pós-modernos, pós Santos Dumont, o que não falta são burros voando, ainda mais em ano eleitoral.

Tales Fonseca

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