Comentário do Editor:

Querido irmão,

Nesta resposta, não pretendo repetir informações bíblicas já apresentadas no comentário anterior a este. Refiro-me à dualidade da palavra "Elohim" e à criação de uma imagem e semelhança de Deus em unidade formada por apenas dois seres e não, três. (Quem ainda não leu, por favor, clique aqui para fazê-lo e depois retorne a este texto.)

Leiamos agora as passagens que menciona, retirando delas sua opinião pessoal de que a expressão "sete Espíritos" se refiram à suposta terceira pessoa da trindade, Deus Espírito Santo e procurando entendê-las como estão na Bíblia:

"João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono e da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!" Apocalipse 1:4-6.

A saudação apresentada é do próprio apóstolo, que deseja aos leitores do Apocalipse "graça e paz" da parte de Deus Pai, dos sete Espíritos que se acham diante do Seu trono e de Jesus Cristo. O texto não faz qualquer referência direta ao Espírito Santo e à Trindade.

Deus Pai é identificado como "aquele que é, que era e que há de vir" (o Eterno "Eu Sou" do Antigo Testamento). De Jesus Cristo, diz-se que é "a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra", acrescentando-se que "a glória e o domínio pelos séculos pelos séculos dos séculos" devem ser dados a Jesus Cristo. E a razão para isso é o fato de que Jesus Cristo "nos ama, e pelo seu sangue, nos libertou de nossos pecados, e nos constituiu reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai".

O detalhe em negrito no final do parágrafo acima é muito importante porque reforça outras passagens do Novo Testamento em que Deus Pai é identificado não só como Pai, mas especialmente como Deus, de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, cai por terra a idéia de seres divinos idênticos em autoridade e poder, formando a Divindade. Jesus Cristo, embora divino, tem um Deus, a Quem adora e ao qual Se submete e esse Deus é Seu próprio Pai, o qual não divide Sua glória com nenhum outro ser.

Sete Espíritos que se acham diante do Seu trono

O que dizer dos "sete Espíritos"? Seriam literalmente sete Espíritos Santos (divinos)? Se fossem, já não teríamos uma trindade, mas uma "novedade", somando-se Deus Pai, Deus Filho e os sete Espíritos... Ou o Espírito Santo da trindade é a somatória (totalidade, totalização) de sete espíritos menores que, em conjunto, formariam a dita terceira Pessoa?

Descartar a literalidade e partir para o simbolismo da expressão "sete Espíritos" pode até parecer-nos uma saída. Mas, se Deus Pai e Seu Filho Jesus Cristo são citados literalmente nos versos acima, é de se esperar que também os sete Espíritos sejam sete seres realmente, como eram reais as sete igrejas a quem a mensagem se destinava. Resta-nos agora identificá-los.

O texto mencionado pouco nos informa quanto à identificação dos "sete Espíritos". Diz-nos, porém, o suficiente para que descartemos a possibilidade de que sejam, ou formem, uma divindade. Os sete Espíritos "se acham diante do Seu trono". Isto é, permanecem perante Deus à Sua disposição, em atitude de adoração, prontos para servi-Lo. Se fossem uma terceira pessoa divina, estariam no trono e não, diante dele!

Leiamos os outros textos que o irmão menciona, a fim de encontrar mais informações que nos permitam identificar os "sete Espíritos que se acham diante do Seu trono":

"Imediatamente, eu me achei em espírito, e eis armado no céu um trono, e, no trono, alguém sentado; e esse que se acha assentado é semelhante, no aspecto, a pedra de jaspe e de sardônio, e, ao redor do trono, há um arco-íris semelhante, no aspecto, a esmeralda. Ao redor do trono, há também vinte e quatro tronos, e assentados neles, vinte e quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro. Do trono saem relâmpagos, vozes e trovões, e, diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus." Apocalipse 4:2-5.

"Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra." Apocalipse 5:6.

Nosso trabalho começa agora a ficar mais fácil e a solução do problema pode estar próxima:

1. Já sabemos que os sete Espíritos estão diante do trono e, portanto, não constituem uma pessoa divina.
2. Apocalipse 4:5 acrescenta que os sete Espíritos são como sete tochas de fogo, que ardem diante do trono.
3. Apocalipse 5:6 informa ainda que os sete Espíritos são como sete olhos...
4. que eles pertencem ou estão sujeitos a Deus, porque são sete Espíritos de Deus...
5. e que os sete Espíritos são enviados por toda a terra.
   
   Outra informação que poderíamos acrescentar, embora o texto não tenha sido citado pelo irmão, é a que encontramos em Apocalipse 3:1:
   
   "Ao anjo da igreja em Sardes escreve: Estas coisas diz aquele que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto."
    
6. Jesus é superior aos sete Espíritos de Deus, uma vez que Ele também os têm. (Aquele que possui, obviamente, é maior do que aquilo que é possuído, ou aqueles que lhe são subordinados.)

Surpresas bíblicas

Com estas novas pistas em mãos, deixemos agora que a própria Bíblia explique-se a si mesma, desfazendo de modo surpreendentemente fácil o mistério dos "sete Espíritos de Deus" e confirmando a inexistência de suporte bíblico para a crença numa impossível trindade monoteísta, composta por três deuses, que se teriam feito sócios na criação e administração do Universo:

"Fazes a teus anjos ventos, e a teus ministros labaredas de fogo." Salmo 104:4.

"O aspecto dos seres viventes era como carvão em brasa, à semelhança de tochas; o fogo corria resplendente por entre os seres, e dele saíam relâmpagos, os seres viventes ziguezagueavam à semelhança de relâmpagos." Ezequiel 1:13-14.

"Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho? E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem. Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo." Hebreus 1:1-7.

"Ora, a qual dos anjos jamais disse: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés? Não são todos eles espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a salvação?" Hebreus 1:13-14.

Hierarquia celeste

Observe ainda, irmão, a "hierarquia" celeste apresentada explicitamente no versículo que abre o livro de Apocalipse:

"Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João." Apocalipse 1:1.

Foi Deus Pai quem soberanamente deu toda a Revelação do Apocalipse a Jesus para que Este, "por intermédio do Seu anjo", que falou com João, mostrasse "aos Seus servos as coisas que em breve devem acontecer". Portanto, mais uma vez, também aqui não há qualquer vestígio de um tríplice poder divino em ação. Em lugar de um terceiro deus, quem aparece aqui como portador dessa mensagem às sete igrejas é o anjo de Jesus Cristo, Gabriel.

"... Maravilhoso pensamento que o anjo que ocupa, em honra, o lugar logo abaixo do Filho de Deus, é o escolhido para revelar os desígnios de Deus a homens pecadores. ...” – (O Desejado de Todas as Nações. 20ª ed. Tatuí – SP, CPB, 1997. p. 99.).

“Foi Gabriel, o anjo que ocupa a posição imediata ao Filho de Deus, que veio com a divina mensagem a Daniel. Foi Gabriel ‘Seu anjo’ que Cristo enviou a revelar o futuro ao amado João; e é proferida uma bênção sobre os que lêem e ouvem as palavras da profecia, e observam as coisas ali escritas.” (Ibidem. p. 234.).

Assim, se houvesse uma terceira pessoa divina no Céu, ela deveria chamar-Se Gabriel. Mas, ao contrário de Lúcifer, seu antecessor na posição, Gabriel jamais pretendeu ser igual a Deus, ou posicionar-se acima dEle, como está escrito:

Disse-me ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer. Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro. Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, ele me disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus." Apocalipse 22:3-9.