Como o Ocidente construiu a China
…Em 2007, Kissinger disse à América e seus aliados que devemos aceitar o fato de um mundo liderado pela China. Dez anos depois, em 2017, quando Trump assumiu o cargo, não havia dúvida de que a China havia se tornado um adversário poderoso dos Estados Unidos em grande parte do mundo.
No entanto, ficou claro para Trump que a China havia sido autorizada a se tornar um desafiante global. Sua ascensão foi o resultado de o Ocidente fornecer investimento e tecnologia contínuos e em larga escala por duas décadas. Em outras palavras, os Estados Unidos fizeram pela China o que não puderam fazer por si mesmos nas três décadas anteriores do regime do PCC.
Fonte: Pandemia justifica política chinesa de Trump. Clique e leia todo o artigo.
https://youtu.be/7YS0DwQVylc?t=49
Desde o começo desse século, a China tem investido pesadamente em vários setores na America Latina, principalmente no setor de infraestrutura. Isso nos confirma que apesar do teatro político atual, os investimentos e construções já foram feitos e continuam a se desenvolver dia após dia. O que você acha de tudo isso?
Como no antigo império romano, todos os caminhos levam à China…
A iniciativa chinesa: Um Cinturão, Uma Rota desembarca na América Latina
Depois de meses de expectativa, os planos para a iniciativa da China Um Cinturão, Uma rota (BRI, na sigla inglesa) finalmente passaram a contemplar a América Latina e o Caribe (ALC). O que era especulação se transformou em realidade e este é o momento certo para avaliar o que sabemos sobre a chegada da iniciativa e o que ela pode oferecer à região.
Entra em campo a América Latina
Durante os últimos meses, os líderes chineses impetraram esforços para mudar o discurso do BRI para incluir a ALC, com sucesso notável. Os diplomatas passaram a se referir à região como uma “extensão natural” da Rota da Seda Marítima e como uma “participante indispensável” da construção do BRI. Esse foi o discurso proferido primeiramente pelo Presidente Xi Jinping durante a sua reunião com o presidente da Argentina, Mauricio Macri, no Fórum do BRI de 2017.
As palavras também foram incluídas na “Declaração Especial sobre o Cinturão e a Rota”. O documento, que foi assinado durante o Segundo Fórum Ministerial da China-CELAC, em janeiro de 2018, apresentou a ICR como “uma nova plataforma para a cooperação mutuamente benéfica” entre a China e a América Latina, e afirma que a China “convida os países da América Latina e do Caribe a participarem”.
Além do convite aberto à região como um todo, a China também começou a incorporar, de forma formal, os países da ALC ao BRI por meio de acordos de cooperação bilateral. Até junho de 2018, 70 países tinham assinado esses acordos, sendo que quatro deles se localizavam na região da ALC.
O primeiro país latino-americano a assinar o acordo foi o Panamá, que estabeleceu laços com a China no ano passado. Depois foi a vez de Antígua e Barbuda, Trindade e Tobago, e, mais recentemente, a Bolívia. Embora o conteúdo destes acordos – bem como o proverbial “Cinturão” que conectaria a ALC ao resto do BRI – permaneça pouco claro, sua proliferação entre os países da América Latina confirma o desejo da China de incorporar gradualmente a região ao seu plano colossal.
Um Cinturão e uma Rota com qualquer outro nome
Ironicamente, pode ser superestimada a importância de estar dentro ou fora do BRI porque as atividades desenvolvidas pela China na América Latina já tem um sabor de “Um Cinturão, Uma rota” há algum tempo, tanto na substância como no estilo.
O enfoque da iniciativa – o financiamento e o desenvolvimento de infraestruturas – tem guiado a abordagem da China na América Latina há mais de uma década. Desde 2005, a China já ofereceu cerca de US$150 bilhões em financiamento para a ALC, sendo que US$27 bilhões deste valor tiveram como destino projetos de infraestrutura, incluindo uma estrada na Costa Rica, uma ferrovia na Argentina e um porto em Trindade e Tobago.
Além do financiamento país-a-país, muitos outros projetos vem sendo propostos, desde um porto no Peru até um cabo submarino com fibras óticas entre a China e o Chile. Eles refletem perfeitamente o lema de conectividade da BRI.
Devido a essas semelhanças, os críticos vêm alegando que muitos desses projetos (e, em certa medida, a própria BRI) são como vinho velho em garrafas novas. De fato, muitos dos projetos chineses desenvolvidos ao redor mundo – como a Sétima Ponte da Amizade entre Bangladesh e China, que foi acordada entre os países em 2012 – estão sendo reapresentados como sucessos da iniciativa.
A América Latina não é uma exceção. Como exemplo, podemos citar a conexão norte-sul da rodovia Highway 2000 da Jamaica, que foi reembalada e apresentada como se fosse um projeto do BRI apesar de o acordo de concessão com a empresa China Harbour Engineering ter sido assinado em data posterior à iniciativa.
A Ferrovia Panamá-Chiriqui, que no momento está em fase de estudo de viabilidade, parece ser o único projeto Um Cinturão, Uma rota na América Latina que não começou antes de o país ser integrado à iniciativa.
Todas as rotas (e cinturões) levam à China
Apesar de tudo o que Pequim já falou a respeito do potencial transformador do BRI, há sinais de que a abrangente iniciativa está presente na região apenas para um pequeno grupo de elites e especialistas da China. Para essas elites, o BRI representa uma oportunidade de desenvolver a infraestrutura da sua nação, principalmente a de transportes, na esperança de alcançar benefícios de longo-prazo em diversas áreas, do comércio à saúde pública.
À primeira vista, integrar ao BRI parece uma ideia muito atraente porque a iniciativa promete muito e exige pouco. Mesmo que os financiamentos para infraestrutura não aumentem significativamente, o apoio que a China concede à iniciativa poderia, por si só, servir de incentivo para outros atores chineses se envolverem com os países do BRI. Este ponto específico seria motivo suficiente para convencer os países da América Latina a embarcarem na iniciativa.
No entanto, os líderes e dirigentes políticos da América Latina fariam bem em examinar a iniciativa com um olhar crítico, principalmente agora que ela se prepara para percorrer a região. Para começar, o sucesso socioeconômico dos projetos individuais do BRI, como o de qualquer empreitada, não é garantido.
Um coro crescente de vozes vem chamando a atenção para a realidade de que os projetos terão carta-branca para falharem ou terem um desempenho abaixo do esperado assim que os acordos forem assinados e as câmeras desligadas. Foi isso o que aconteceu antes do BRI, e esse parece ser o caso agora. Na América Latina, especificamente, as obras da ferrovia Tinaco-Anaco, na Venezuela, estão paradas há anos e são emblemáticas do quanto um projeto pode dar errado rapidamente.
Além disso, mesmo que os acordos sigam conforme o planejado, o sucesso da iniciativa tem seu lado negativo. A ênfase na conectividade, por exemplo, não desafia a centralidade do papel ocupado pelas commodities e indústrias extrativas nas relações comerciais entre a China e a América Latina.
O aumento da conectividade poderá, ainda, exacerbar os problemas causados pelo relacionamento assimétrico entre os países latino-americanos – que são exportadores individuais e pequenos de commodities – e a China – que é uma gigantesca importadora de commodities. Sem contar os receios em relação ao desejo da China de controlar cada fase da cadeia de suprimentos, e a importância cada vez maior do país asiático nos setores críticos da região, incluindo o de energia. Há também as questões ambientais – fonte constante de preocupação sobre os projetos chineses de engenharia na América Latina – e as questões relacionadas aos direitos das comunidades locais (principalmente povos indígenas).
A China abriu a porta para a América Latina participar no BRI. O que, exatamente, está do outro lado dessa porta continua sendo um mistério.
Leia mais sobre a dominação econômica da América Latina pela China em https://www.epochtimes.com.br/
Cinturão e Rota, a nova iniciativa da China na América Latina
Em apenas uma década, o volume comercial entre a China e a América Latina se multiplicou em mais de vinte vezes: foram centenas de acordos assinados e dezenas de projetos iniciados em áreas cruciais para a região, como energia, transporte e infraestrutura.
A expansão levou a China a ver a América Latina como uma extensão natural da Iniciativa do Cinturão e da Rota, originalmente projetada para a Europa e para a Ásia desde seu lançamento em 2013, mas que hoje já conta com 18 países latino-americanos.
Você sabia? O Panamá foi o primeiro país latino-americano a assinar o acordo Cinturão e Rota
O projeto, que terá esta semana na China seu segundo fórum internacional, pretende recuperar e expandir a antiga Rota da Seda. O objetivo é uma cooperação mais ampla entre os países e regiões participantes, não apenas no âmbito econômico, mas também na comunicação, política e cultura.
“Quem representa hoje a globalização e o livre comércio no mundo não são os Estados Unidos, mas a China. Seu grande objetivo é a integração econômica global e, por isso, todos estão convidados a participar do Cinturão e da Rota”, afirma Dafne Esteso, pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudos Políticos e Econômicos da China.
A Iniciativa do Cinturão e da Rota propõe o desenvolvimento de uma rede multimilionária de projetos de infraestrutura na Ásia, África, Europa e América. O principal objetivo é promover comércio e outras formas de conectividade, mas também melhorar as perspectivas de desenvolvimento econômico dos países participantes.
Nos últimos cinco anos, o projeto chinês cresceu até ganhar um enfoque global e incluir diversas regiões, como a América Latina. O primeiro país da região a se tornar membro do projeto foi o Panamá, que estabeleceu relações com a China ano passado. A ele se seguiram Antígua e Barbuda, Trinidade e Tobago, Bolívia e Chile, entre outros muitos países.
“É a maneira como a China organiza sua política exterior. É sua estratégia para o mundo”, afirma Ricardo Barrios, pesquisador do programa Ásia e América Latina do Diálogo Interamericano. “Para a China, a América Latina é um participante indispensável do Cinturão e da Rota.”
Durante a II Reunião Ministerial do Fórum entre a China e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizada em janeiro de 2018 em Santiago do Chile, foi aprovada uma declaração especial sobre a Iniciativa do Cinturão e da Rota. O texto assegura que a proposta será implementada por todo o continente latino-americano.
Contudo, ainda há desafios para a China na região. Argentina, Brasil e México – as maiores economias – ainda não assinaram sua adesão à iniciativa, o que é um “incômodo” para o governo de Xi Xinping, segundo Barrios, limitando sua expansão.
“O Chile é o único país entre os mais importantes economicamente que confirmou participação, e isso é um incômodo para a China. Tem a ver com o papel dos Estados Unidos, já que Trump expressou dúvidas sobre a iniciativa. Quando a participação se limitava à Europa e à Ásia, o cenário era diferente”, acrescentou o especialista.
Em busca de financiamento
A expectativa dos países latino-americanos que já assinaram acordos é que a Iniciativa do Cinturão e da Rota lhes dê acesso a um maior financiamento de obras energéticas, rodoviárias e portuárias – entre outras. No entanto, isso não impede que haja dúvidas quanto aos riscos de endividamento por meio desses projetos.
A região já recebeu 150 bilhões de dólares da China desde 2005, segundo o Diálogo Interamericano. Contudo, os fundos se reduziram progressivamente nos últimos três anos, de acordo com a Rede Acadêmica da América Latina e do Caribe sobre a China.
Nos próximos 20 anos, a América Latina investirá dois bilhões de dólares em transporte e energia, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento. A expectativa da região é que a China aumente seu volume de investimento para tornar-se um ator ainda mais importante na região por meio do Cinturão e da Rota.
“O poder econômico da China vem de sua capacidade de financiamento e o protagonismo de suas empresas, que estão ganhando muita experiência na América Latina”, afirma Sergio Cesarin, coordenador do Centro de Estudos Ásia do Pacífico e Índia da Universidade Tres de Febrero (UNTREF). “O vínculo da região com a China vai se fortalecer com esse projeto.”
A China é atualmente o segundo maior sócio comercial e o terceiro maior emissor de investimentos da América Latina. Estima-se que, na última década, mais de duas mil empresas chinesas se instalaram na região e geraram mais de 1,8 milhão de empregos locais.
1.8 milhão: o número estimado de empregos criados na América Latina por investimentos e comércio chineses
Ainda assim, a América Latina tem hoje um deficit comercial de mais de 60 bilhões de dólares com a China. Cerca de 70% das exportações da região para o mercado chinês correspondem a soja, minérios e hidrocarbonetos, o que torna a relação entre os dois atores assimétrica.
Critérios sociais e ambientais
A expansão da Iniciativa do Cinturão e da Rota na América Latina lança a pergunta sobre as características que um projeto deve ter para formar parte da iniciativa. Embora isso ainda não esteja claro, a China está trabalhando para definir esses critérios com maior claridade.
“Até agora, não há critérios para os projetos do Cinturão e da Rota, mas a China está pensando nisso. Por ser o anfitrião principal, há muito peso sobre a China para estabelecer certos parâmetros de maneira explícita. O governo está buscando isso”, argumenta Barrios.
Organizações não governamentais têm questionado diversos projetos de empresas chinesas na América Latina por violações de direitos humanos e pelo não cumprimento de requerimentos ambientais. As queixas chegaram às Nações Unidas, onde a China aceitou fazer modificações.
Nesse sentido, a Iniciativa do Cinturão e da Rota pode ser uma oportunidade para incluir padrões de sustentabilidade ambiental e direitos humanos nos projetos abarcados pela iniciativa. Para a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), é uma oportunidade que não se deve desperdiçar.
“O Cinturão e a Rota pode atrair investimentos em infraestrutura, indústria e serviços na América Latina e no Caribe. Isso possibilita um salto econômico para a região, mas baseado na sustentabilidade ambiental”, defendeu recentemente Alicia Bárcena, representante máxima da organização regional das Nações Unidas.
https://www.youtube.com/watch?v=EeeQHj65v-s