“Antes que aceitem o clone como humano, é preciso ensiná-los a amar aquilo que apenas se parece com a humanidade.” — Hermano de Jesus Cordeiro
Em vitrines iluminadas e berços montados com carinho, eles repousam silenciosos. São chamados de bebês reborn — bonecos hiper-realistas moldados com silicone, vinil e fibra. Mas apesar de não respirarem nem chorarem, são amamentados, acariciados e registrados como filhos por milhares de pessoas ao redor do mundo.
O fenômeno poderia ser tratado como um capricho artístico ou uma terapia do luto. Contudo, no contexto deste livro em preparo — que denuncia as engrenagens ocultas por trás da clonagem humana, da inteligência artificial e do controle populacional — os reborns assumem um novo papel: o de instrumentos psicológicos de preparação para a aceitação do inumano.
Este capítulo especial é uma investigação sobre como esses “bebês de mentira” podem estar ensinando a humanidade a amar clones, aceitar substitutos e abraçar, sem resistência, uma nova forma de escravidão emocional e biológica.
I. A Primeira Etapa: Familiarização com o Artificial
A chave para qualquer processo de manipulação social de longo prazo está na normalização do absurdo. Os bebês reborn funcionam como a ponta do iceberg: eles quebram barreiras emocionais, substituem o vínculo biológico por um vínculo simbólico, e pavimentam uma trilha afetiva para a aceitação de seres que não nasceram de um útero humano — mas foram fabricados.
Essa transição simbólica e emocional reduz a resistência cultural à clonagem. A convivência com bonecos “quase humanos” condiciona a psique coletiva a aceitar, sem questionar, seres que parecem humanos, mas que foram criados artificialmente.
II. A Escada da Substituição: Boneco → Clone → Substituto
O uso afetivo dos reborns estabelece um roteiro emocional para uma nova fase da humanidade. Trata-se de uma escada silenciosa de condicionamento, cujos degraus são:
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Aceitar bonecos realistas como filhos simbólicos.
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Criar vínculos reais com entidades artificiais.
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Desejar filhos “sem defeitos”, artificiais, mas perfeitos.
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Normalizar clones como solução emocional, estética ou funcional.
É nesse momento que o clone deixa de ser ficção científica e passa a ser produto afetivo — uma extensão programada das vontades humanas, construída em laboratório, não em amor natural.
III. O Rebento da Engenharia: Quando o Ventre se Torna Fábrica
Em um mundo onde úteros artificiais já são experimentados e onde a engenharia genética permite personalização do DNA, os reborns são os ensaios simbólicos da maternidade biotecnológica. Eles reforçam a ideia de que o que importa não é o processo biológico, mas o objeto final de afeto.
Se o vínculo for psicológico, pouco importa se o “bebê” nasceu de carne, plástico ou célula-tronco. Esse tipo de doutrinação emocional cria o cenário ideal para que clones programados para substituir filhos, soldados, esposas, cuidadores e até governantes sejam integrados à sociedade sem choque cultural.
IV. Amor Programado: O Fim da Alma?
A questão essencial aqui não é técnica, mas ontológica. Ao amar um boneco como se fosse um ser vivo, abre-se um precedente perigoso: o amor pode ser transferido para o que não tem alma, ou vinculação com Deus.
Assim, o clone — uma entidade com DNA, corpo e talvez até sentimentos, mas sem origem natural ou divina pela Criação — deixa de ser questionado moralmente. Ele se torna apenas mais uma “versão avançada” do reborn: mais funcional, mais obediente, mais ajustado às expectativas de quem o “encomendou.”
Essa transição representa um colapso espiritual. Estamos matando o conceito de que somos criaturas de origem divina enquanto fingimos cuidar de algo que se parece com um bebê. A clonagem completa esse processo ao oferecer uma cópia viva — mas sem mistério, sem dor, sem vínculo ancestral.
V. O Ensaio da Nova Escravidão
Os reborns não são meros brinquedos. São protótipos emocionais que nos treinam para a submissão. Eles nos ensinam que:
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É aceitável substituir o humano por algo mais funcional.
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A estética da perfeição justifica a perda da autenticidade.
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O conforto psicológico vale mais que a verdade existencial.
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O vínculo afetivo pode ser criado com o artificial, desde que pareça vivo.
O próximo passo será aceitar clones como filhos ideais, soldados sem consciência, líderes programados, trabalhadores sem alma. Tudo isso sob o pretexto da eficiência, da superação do luto ou da evolução biotecnológica.
Conclusão: O Boneco que Abriu o Portal
Enquanto embalamos bonecos em panos macios, alguém embala clones nos corredores subterrâneos da engenharia genética.
O bebê reborn, inofensivo à primeira vista, é a metáfora viva de nossa transição como sociedade: da carne à cópia, do mistério à função, do amor natural à programação afetiva.
Eles não choram. Não crescem. Não morrem.
Mas nos ensinam — silenciosamente — a aceitar a próxima fase da escravidão humana: a invasão dos clones que amaremos, não porque são reais, mas porque fomos ensinados a amá-los.