Católicos Dizem que "Renovação Carismática Não é  Protestantização da Igreja Católica"

Talvez pelo fato de ter suas origens ligadas ao pentecostalismo das chamadas "igrejas evangélicas", a Renovação Carismática despertou, desde o início, junto às correntes tradicionais do catolicismo, o temor de um processo de Protestantização da Igreja. O uso entusiasmado e um tanto quanto livre da Sagrada Escritura, a liberdade de iniciativa do laicato, o emocionalismo muitas vezes exagerado de alguns membros, e o próprio fato de ter como ponto alto de sua praxis o batismo no Espírito, com o decorrente exercício dos carismas - tudo isso serviu de material para as críticas que, obviamente, nem sempre partiam de pessoas que chegaram a freqüentar o "movimento".

Na esteira desse temor generalizado, sobressaía-se uma forte preocupação para com o que muitos críticos denominavam de "perigo da Renovação Carismática para a ordem e para a unidade da Igreja". Medo exagerado ou infundado?... Certamente que não. Havia todo um histórico apontado nesta direção, e que envolvia seguramente todas as iniciativas de renovação no Espírito das igrejas protestantes.

O chamado "Pentecostalismo clássico" teve seu ponto de partida na cidade de Topeka (Kansas, EUA), onde o pastor metodista Charles Parham fundara uma escola para estudar diretamente a Bíblia. Refletindo sobre a forte experiência carismática vivida pelas comunidades cristãs dos Atos dos Apóstolos, Parham organizou a l de janeiro de 1901, uma vigília de oração para que os membros da escola pudessem se aprofundar no assunto. Durante a vigília, uma jovem (Agnes Osman) pediu para si a imposição de mãos para receber o dom do Espírito.

Depois de hesitar um pouco, o pastor concorda, e a jovem Agnes ora em línguas pela primeira vez na história recente dos fenômenos carismáticos. E, nos dias seguintes, a mesma experiência se difunde por entre os demais membros do grupo incluindo o próprio pastor.

Frente à oposição da Igreja Anglicana aos seus anseios de renovação, Wesley fundara o Metodismo. Agora, a corrente pentecostal que brotava do Metodismo, teria também de buscar seu próprio caminho, fora do Anglicanismo. E, sistematicamente o Pentecostalismo foi sendo sempre rejeitado pelas primeiras confissões onde apareceu.

Avançando mais de meio século na história, tivemos o início do "Neopentecostalismo", caracterizado pelo ressurgimento da mesma experiência carismática nas confissões cristãs mais tradicionais: a episcopal (a partir de 1958), a luterana (1962), a presbiteriana (1967), e assim por diante. E embora sempre gerando, de início, muitas reações desfavoráveis, a ruptura foi deixando de ser uma conseqüência inevitável na experiência pentecostal dessas igrejas.

Em março de 1967, na Universidade de Notre Dame (Indiana, EUA), um experiente missionário perguntou à sua platéia, formada por um dos grupos dos primeiros adeptos da nascente renovação carismática: "E agora, quando é que vão deixar a Igreja Católica?" Os recém-batizados no Espírito presentes à reunião ficaram estupefatos, porque, diziam, eles tão-somente se reconheciam melhores Católicos, e nada mais.

Todos os que conhecem a importância do livro de David Wilkerson ("A Cruz e o Punhal") para o início da RCC, têm por este pastor evangélico profunda admiração. Tive a graça de conhecê-lo pessoalmente em outubro de 1972, no Ginásio do Taquaral, em Campinas (SP). Vendo aquelas dezenas de jovens entregando suas vidas a Jesus, atirando ao palco, durante sua pregação, cigarros de maconha, papelotes de drogas e maços de cigarros, era inevitável se concluir: aí está um homem dirigido pelo Espírito de Deus... 

Porém, quando em agosto de 1971, na Segunda Conferência Carismática Luterana, ele "profetizara" que o acolhimento caloroso dos carismáticos na Igreja Católica não continuaria, e que eles seriam constrangidos a deixar a Igreja, ele não falava, sem dúvida, em nome do Espírito. Falava, talvez, influenciado pelos determinismos históricos antecedentes, e sem considerar a revalorização das bases que o Concílio Vaticano II estava instaurando na Igreja Romana, revisando as relações entre instituição e povo de Deus, e reabilitando-lhe, conforme vários documentos conciliares, os próprios carismas.

Já em 1967, Edward O'Connor, um dos pioneiros da RCC, escrevia: "Embora no mundo protestante o movimento pentecostal levou, muitas vezes, as pessoas a se separarem da Igreja-Mãe e a fundarem novas igrejas, o Movimento Pentecostal católico não manifestou tal tendência. Ao contrário, aprofundou internamente os laços de seus membros com a Igreja. Tem eles mais viva estima e maior respeito pelas instituições. A presença dos sacerdotes em suas reuniões é bem-vinda, como segurança de nada fazer de incompatível com os ensinamentos e práticas da Igreja.

Passados estes anos de Renovação Carismática Católica, o que mais a tem caracterizado, nesta linha, é a procura da articulação entre a fidelidade à instituição e a abertura ao novo sopro de graça que ora o Espírito difunde por sobre toda a Terra. Compreendeu-se desde o início que, se o Espírito nos dava uma chance genuína de renovação, era para que permitíssemos que ele renovasse nossa própria Igreja, e não para que fundássemos uma outra. (Aliás, mais do que novas igrejas, carecemos, na Igreja, de novas criaturas, homens e mulheres verdadeiramente renascidos da água e do Espírito, cf. Jo 3-7).

Compreendeu-se que não deveríamos temer pela criação de uma "igreja do Espírito", com a conseqüente colocação de Jesus em segundo plano, pois o crente autenticamente renovado pelo Espírito sabe que a missão do Paráclito é glorificar a Jesus (Jo 16,14), dar testemunho dele (Jo 15,26), ensinar-nos e recordar-nos seus feitos e suas promessas (Jo 14,26), capacitar-nos para testemunhar o próprio Cristo (At 1,8).

E assim tem sido nesses anos todos. Os que eventualmente passam pela Renovação e deixam a Igreja, com certeza já estavam assim decididos antes de conhecer a Renovação; não foram por ela estimulados. (A bem da verdade, este não é um problema inerente à RCC, pois pessoas deixam a Igreja a partir de qualquer movimento, ou mesmo sem ter tido contato com eles). E há que se considerar ainda os inúmeros testemunhos de pessoas que, prestes a deixar a Igreja, ou totalmente apáticas à prática religiosa, tiveram sua fé reanimada a partir da renovação no Espírito, e hoje são católicos fervorosos e praticantes.

Acredito que o pronunciamento de David Wilkerson foi "usado" por Aquele que "tudo conduz para o bem" (Rm 8,28), pois, se não se cumpriu, serviu (e muito bem) apenas para estimular a vigilância e o cuidado dos laços da RCC com toda a Igreja, com as paróquias, com outras pastorais. E embora passando por toda sorte de dificuldades - que variam de realidade para realidade - a Renovação tem demonstrado que veio para ficar até quando o pretender o Espírito; que não se tratava como pensavam muitos - de "mais um modismo passageiro", de mais um movimento, apenas, mas da própria Igreja em movimento, estimulada por esse sempre novo fôlego do Espírito; e que queremos continuar fiéis às orientações que emanam da autorizada e legítima cátedra de Pedro, obedientes aos nossos bispos, cooperando com nossos vigários, amando mais e mais à Maria, nossa Mãe, e acolhendo a Eucaristia como o ápice de nossa vida de fé e piedade... louvemos o nosso Deus e Pai, que pela glorificação de Jesus nos concedeu o Consolador; louvemos o Espírito Paráclito por todo discernimento, por toda abertura, por tantas estruturas e vidas renovadas através de seu agir nestas três últimas décadas. Louvemo-lo especialmente pelo dom da fidelidade eclesial concedido à RCC em todo mundo. Aleluia!

Reinaldo Beserra dos Reis
Revista Jesus Vive e é o Senh
or

Fonte: http://www.radiorainhadapaz.com.br/

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