Apêndice A

A. T. JONES ENSINOU A HERESIA DA "CARNE SANTA"?

 

Tentativas têm sido feitas para insinuar que a mensagem de A. T. Jones de justificação pela fé conduz à heresia da "carne santa". É dito que ele ensinava essa falsa doutrina já nos primeiros meses seguindo-se à assembléia de 1888. Um exemplo, sem dúvida baseado em pesquisa da Associação Geral, se segue:

"Parece haver alguns paralelos impressionantes entre a experiência do povo de Deus por volta de 1888 e nosso próprio tempo. Por exemplo, Waggoner e Jones foram usados pelo Senhor em 1888; mas já em 1889 os sermões de Jones começavam a mostrar uma inclinação na direção do engano da 'carne santa'." (Adventist Review, 6 de agosto de 1981).

Essa acusação deve ser cuidadosamente examinada. Se for verdadeira, várias conseqüências se seguirão imediatamente em muitas mentes pensantes e lógicas:

(1) Se verdadeira, desacreditará a mensagem de 1888. Se Jones ou Waggoner podem ser acusados de en­sinarem a heresia ou fanatismo durante a era 1888, a Igreja seria tola em dedicar séria atenção à mensagem deles. David P. McMahon e Desmond Ford fizeram tentativas de desacreditar Waggoner nesse propósito, não obstante o repetido endosso de Ellen White. Em seus Documents no 32 Ford declara que em 1892 Waggoner não era mais um adventista do sétimo dia. McMahon, em seu Ellet Joseph Waggoner: The Myth and the Man [Ellet Joseph Waggoner: O mito e o homem] (Verdict Publications, Fallbrook, CA, 1979), argumenta que Waggoner afastou-se da posição protestante de justificação pela fé poucas semanas após a assembléia de 1888 e daí em diante ensinou a posição católica-romana. A falsidade dessas acusações foram expostas pelo Dr. Leroy Moore no Apêndice B de sua Theology in Crisis [Teologia em Crise] (1979). Quem quer que leia os escritos de Jones-Waggoner pode pron­tamente ver isso por si mesmo.

(2) Se Jones estava se desviando "já em 1889 . . . na direção do erro da 'carne santa', Ellen White deve também ser considerada ingênua e fanática. Durante sua longa e destacada carreira, ela nunca, em tempo algum, ofereceu endosso a alguém tão repetida e entusiasticamente como fez com a mensagem e trabalhos de Jones de 1888 até 1896.

Conquanto seja verdade que Jones foi um ser humano tão inclinado a fraquezas como qualquer de nós, ela nunca o teria endossado tão veementemente se tivesse acolhido a mais leve suspeita de que seu ensinamento estava se movendo para um fanatismo tão horrendo quanto o que afligiu a Associação de Indiana na passagem do século. Não será de auxílio escusar Ellen White por endossá-lo com base no fato de que ela estava sendo honestamente enganada por ele. Ela exercia o dom profético e reivindicava inspiração celestial. Não há meio de podermos respeitá-la se ela estava equivocada a respeito de Jones.

(3) A única mensagem que Ellen White sempre identificou como um genuíno começo do dom do Espírito Santo na chuva serôdia e do alto clamor é a dos mensageiros de 1888. Se esta quase imediatamente moveu-se no rumo do fanatismo da "carne santa", como podemos confiar em qualquer mensagem semelhante que o Espírito Santo possa inspirar no futuro? Podemos estar seguros de que Satanás gostaria de dissuadir a Igreja de jamais outra vez obter qualquer verdadeira bênção espiritual enviada desde o céu.

 

Evidência Concernente à Acusação Contra Jones

A suposta evidência para a acusação é encontrada em comentários atribuídos a A. T. Jones em sermões pregados na campal de Ottawa, Kansas, na primavera de 1889. Notícias da reunião e notas sobre os sermões foram impressos no jornal Topeka Daily Capital. Os sermões não foram registrados palavra por palavra. Foram condensados em grande medida e erros tipográficos são achados em grande número. O relatório incompleto cria confusão de terminologia. Recorre-se a um jornal não-adventista que dá evidência de mau jornalismo a fim de encontrar algo para lançar descrédito sobre o homem a quem Ellen White disse ter "credenciais celestiais" num sentido singular e que nos trouxe "a mais preciosa mensagem". E isso feito um século mais tarde; contudo, mesmo os determinados oponentes de Jones daquela geração não fizeram isso.

Os comentários supostamente heréticos de fato não revelam qualquer evidência de fanatismo do tipo "carne santa", mas simplesmente afirmam a possibilidade de vencer o pecado em perfeição de caráter alcançada mediante fé. Suas declarações, são registradas como segue no jornal de Topeka:

"É a obediência de Cristo que vale, e não a nossa que nos traz justificação. Bem fazemos em parar de tentar cumprir a vontade de Deus com nossos próprios esforços. Parai com tudo. Lançai-o para longe para sempre. Permiti que a obediência de Cristo realize tudo para vós e obtende a força para puxar o arco a fim de atingir a meta. . . .

"...no fato de que a lei requer perfeição jaz a esperança da humanidade, porque se ela pudesse passar por alto um pecado a um mínimo grau, ninguém poderia jamais ser livrado do pecado, uma vez que a lei nunca tornaria esse pecado conhecido, e não poderia jamais ser perdoado, o meio pelo qual somente um homem pode ser salvo. Há de chegar o dia em que a lei terá revelado o último pecado e nos apresentaremos perfeitos perante Ele e seremos salvos com uma salvação eterna. . . . É um sinal de Seu amor por nós, portanto, quando quer que um pecado vos é tornado conhecido, é um sinal do amor de Deus por vós, porque o Salvador se posta pronto para removê-lo (14 de maio de 1889).

"É somente pela fé em Cristo que podemos dizer que somos cristãos. É somente mediante ser um com Ele que podemos ser cristãos, e somente mediante Cristo dentro em nós que observamos os mandamentos -- sendo tudo pela fé em Cristo que fazemos e dizemos essas coisas. Quando o dia vier em que verdadeiramente observaremos os mandamentos de Deus, nunca iremos morrer, porque a observância dos mandamentos é justiça, e justiça e vida são inseparáveis--assim, "Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus", e qual é o resultado? Essas pessoas são trasladadas. Vida, pois, e observância dos mandamentos vão juntas. Se morremos agora, a justiça de Cristo nos será imputada e seremos ressuscitados, mas aqueles que vivem até o fim são tornados sem pecado antes que Ele venha, tendo tanto de Cristo estando neles que "atingem o alvo" toda vez, e permanecem sem culpa, sem um intercessor, porque Cristo deixa o santuário um pouco antes que vir à terra." (18 de maio de 1889; o jornal atribui este sermão a W. C. White).

Fazemos notar o seguinte:

(a) Um criterioso estudo de todos os sermões de Jones registrados naquele jornal deixa de revelar qualquer motivo de "carne santa". As declarações que alguns interpretam como revelando tal rumo dizem respeito tão-só a desenvolvimento de caráter pela fé em preparação para a segunda vinda de Cristo.

(b) Em tempo algum nos anos que se seguem a 1889 há qualquer registro de que Jones tenha feito declarações que possam ser interpretadas como favorecendo essa heresia. Se ele a ensinou em 1889, quase certamente teria aparecido novamente. Proclamar que Cristo "condenou o pecado na carne", como Paulo diz, não é ensinar "carne santa".

(c) A declaração de 18 de maio acima é uma que tem sido primariamente considerada como evidência desse fatal rumo tomado. Mas o registro jornalístico atribui o sermão a W. C. White. Não obstante, seja quem for que o proferiu, o ensino é verdadeiro, e está em harmonia com o conceito adventista de purificação do santuário.

(d) Tanto Jones quanto Waggoner fortemente recusaram o fanatismo da "carne santa" na virada do século. Na Review and Herald de 18 de abril de 1899 Jones publicou um artigo que revela a falácia desse ensino. De 11 de  dezembro de 1900 até 29 de janeiro de 1901 ele publicou uma série de artigos que se lhe opunha adicionalmente. O líder do fanatismo de Indiana, R. S. Donnell, publicou um artigo no Indiana Reporter opondo-se a Jones, indicando que entendeu os artigos como uma refutação de seu ensino. Waggoner também se opôs à doutrina da "carne santa" em sermões proferidos na assembléia da Associação Geral de 1901 (cf. GCB 1901, pp. 403-422; damos crédito a Jeff Reich na pesquisa deste material).

Assim temos mais um exemplo de um século de contínua oposição à "preciosíssima mensagem" que o Céu tencionou que deveríamos acolher como o "começo" da chuva serôdia e do alto clamor. É um misterioso rio subterrâneo de descrença, talvez o mais estranho e mais persistente que tem fluído ao longo de todos os milênios da tentativa de Deus ajudar o Seu povo. Ellen White disse lamentosamente: "Tenho profunda angústia de coração, porque vi quão prontamente uma palavra ou ação do Pastor Jones ou Pastor Waggoner é criticada." (Carta O19, 1892). Desta vez não foi uma "palavra ou ação". Foi somente algo que se imaginou.