Prefácio
Os
autores mantêm a firme convicção de que Deus confiou aos
adventistas do sétimo dia Sua última mensagem de graça
mais abundante para a humanidade. Esta mensagem deve suprir
uma cura final para o problema do pecado, demonstrar justiça
na humanidade crente, e vindicar o sacrifício de Cristo. Não
pode entrar no reino do céu "coisa alguma contaminada,
nem o que pratica abominação e mentira".
Os
autores também crêem que o Salvador tem um imensurável
anseio de que Seu povo prepare o caminho para o Seu retorno.
A mensagem que o Senhor enviou a este povo em 1888 teve o
intento de completar Sua obra de graça nos corações humanos
de modo a que o grande conflito pudesse ser trazido a um fim.
Mas algo saiu errado um século atrás. O plano do Senhor foi
frustrado e retardado. O que aconteceu? Por que esta longa
demora?
As
luzes do farol de um século atrás diminuíram de intensidade
e em muitos casos se extinguiram e desapareceram. Os pilares
do adventismo se tornaram maculados. Nosso povo não abandonou
verbalmente a confiança na segunda vinda de Cristo, mas a
expectação de Seu próximo retorno se abateu. Muitos
estão desorientados e confusos. O mundo presente atrai para
as modas, divertimentos, e conforto egocêntrico.
Mesmo
em iluminadas comunidades adventistas do sétimo dia com uma
rica herança histórica, o divórcio tem-se tornado quase
epidêmico. O beber socialmente é um problema em nossos colégios
e universidades e em muitos de nossos lares. A maioria dos
adventistas na América do Norte não tem uma clara concepção
de um Dia da Expiação celestial ou de nossa singular obrigação
com respeito a temperança e domínio próprio em relação
com isso. É impressionante como numa época de conhecimento
humano explosivo, nós como um povo geralmente ainda temos
somente um vago conceito do que Cristo está fazendo como Sumo
Sacerdote neste Dia da Expiação final, e escassa simpatia
com os Seus objetivos. E aquilo que não compreendemos não
podemos comunicar ao mundo.
É
bem sabido que uma grande proporção de nossos jovens se
ressente de claras convicções da identidade adventista do sétimo
dia. Uma série de artigos na Adventist Review de junho
de 1986 reconhece um novo fenômeno:
jovens adventistas estão se unindo a igrejas
observadoras do domingo (ver capítulo 13 deste livro).
Ministérios
independentes e grupos divididos proliferam. Escândalos
financeiros e heresias fornecem material para os moinhos dos
críticos. Sérias indagações são suscitadas quanto a se a
Igreja Adventista do Sétimo Dia está destinada a se tornar
outro segmento de Babilônia.
A
"mais preciosa mensagem" que o Senhor enviou a Seu
povo quase um século atrás contém o "início" da
solução de todos esses problemas. Foi uma mensagem de graça
muito mais abundante. Nossas crescentes perplexidades são
resultado direto, a colheita certa, de uma descrença, passada
e atual, daquela mensagem de 1888. Quando a verdade é
recusada, o erro sempre se precipita para preencher o vácuo.
Mas nenhum problema é demasiado grande para ser retificado
mediante o arrependimento.
Sem
maior delonga a igreja mundial deve conhecer a história
completa de nossa confrontação de um século com Cristo.
Ellen White freqüentemente comparava nossa falta quanto a
1888 com a rejeição Dele dois milênios atrás. Este livro
reexaminará suas cartas e manuscritos, bem como declarações
publicadas. Deve-se-lhe permitir que fale francamente, sem
inibição. Quando a verdade plena for compreendida,
declarem-na estes autores de modo suficientemente claro, ou
outros autores a ainda surgirem tendo nisso maior êxito, o
arrependimento e reforma terão lugar e um povo estará
preparado para a vinda do Senhor. A mensagem laodiceana não
falhará, mas resultará em cura e restauração.
A
confiança de Ellen White é objetivamente sumariada numa
breve mensagem escrita por seu filho pouco antes de seu
falecimento: "Contei à Sra. Lida Scott como mamãe
considerava a experiência da igreja remanescente, e de seu
ensino positivo de que Deus não permitiria que esta denominação
apostatasse tão completamente ao ponto de levantar-se outra
igreja" (Carta, 23 de maio de 1915). Esta declaração
deixa implícito que haveria na verdade apostasia bastante séria--mas
o Senhor não permitiria que se tornasse total. Até sua morte
ela abrigou a convicção de que o arrependimento
denominacional por fim se daria.
O
que Dizia a Mensagem de 1888
Este
livro não tem o objetivo de reproduzir a própria mensagem em
si. Vários outros trabalhos preparados pelos autores tentam
fazê-lo 1. Mas para aqueles que não têm acesso a tais publicações ou
às fontes originais, alistamos em forma bastante breve um
resumo dos elementos singulares, essenciais daquela mensagem.
Os leitores reconhecerão que esses conceitos estão em
contraste com as idéias geralmente (ou oficialmente) tidas
pelo nosso povo hoje (a documentação está disponível nos
livros citados na nota de rodapé):
(1)
O sacrifício de Cristo não é meramente provisional
mas eficaz para o mundo inteiro, de modo que a única
razão pela qual alguém pode perder-se é preferir resistir
à graça salvadora de Deus. Para aqueles que por fim se
salvarão, Deus foi quem tomou a iniciativa; no caso dos que
se perderem, eles é que tomaram a iniciativa. A salvação é
pela fé; a condenação é por descrença.
(2)
Assim, o sacrifício de Cristo legalmente justificou
"todo homem", e literalmente salvou o mundo da
destruição prematura. Todos os homens devem-Lhe mesmo a sua
vida física, crendo Nele ou não. Cada fatia de pão está
assinalada com Sua cruz. Quando o pecador ouve e crê no puro
evangelho, é justificado pela fé. Os perdidos
deliberadamente negam a justificação que Cristo já efetuou
por eles.
(3)
A justificação pela fé é, portanto, muito mais do
que uma declaração legal de absolvição; ela transforma o
coração. O pecador agora recebeu a expiação, que é
reconciliação com Deus. Uma vez que é impossível ser
verdadeiramente reconciliado com Ele e não ser também
reconciliado com a Sua santa lei, segue-se que a verdadeira
justificação pela fé torna o crente obediente a
todos os mandamentos de Deus.
(4)
Essa maravilhosa obra é cumprida mediante o ministério do
novo concerto no qual o Senhor realmente escreve a Sua lei no
coração do crente. A obediência é amada, e a
nova motivação transcende o temor de estar perdido ou de
espera de recompensa por estar salvo (qualquer dessas motivações
é o que Paulo quer dizer com a frase "debaixo da
lei"). O velho e novo concertos não são questões de
tempo, mas de condição. A fé de Abraão capacitou-o
a viver sob o novo concerto, enquanto multidões de
cristãos hoje vivem
debaixo do velho concerto devido a que a preocupação
centralizada no eu é a sua motivação. O velho concerto era
a promessa do povo para ser fiel; sob o novo concerto a salvação
vem de crer nas promessas de Deus para nós, não de fazermos
promessas a Ele.
(5)
O amor de Deus é ativo, não meramente passivo. Como o Bom
Pastor, Cristo está ativamente em busca da ovelha perdida.
Nossa salvação não depende de buscarmos o Salvador, mas de
crermos que Ele está à nossa procura. Aqueles que estão
perdidos finalmente continuam a resistir e desprezar a atração
de Seu amor. Esta é a essência da descrença.
(6)
Assim, é difícil estar perdido e é fácil ser salvo se
se compreende e crê quão boas são as boas novas. O
pecado é um constante resistir a Sua graça. Uma vez que
Cristo já pagou a penalidade do pecado de todo homem, a única
razão por que alguém pode ser condenado no final é a
persistente descrença, uma recusa em apreciar a redenção
provida por Cristo sobre a cruz e por ele ministrada como Sumo
Sacerdote. O verdadeiro evangelho traz à lume essa descrença
e conduz a um arrependimento efetivo que prepara o crente para
o retorno de Cristo. O orgulho humano e o louvor e lisonja a
seres humanos é incompatível com a verdadeira fé em Cristo,
mas é um sinal seguro da persistente descrença, mesmo dentro
da igreja.
(7)
Ao buscar a humanidade perdida, Cristo seguiu o caminho
completo, tomando sobre Si a natureza caída e pecaminosa do
homem após a queda. Isso Ele fez para que pudesse ser tentado
em todos os pontos como nós, e, contudo, demonstrar perfeita
justiça "à semelhança de carne pecaminosa". A
mensagem de 1888 aceita o termo "semelhança" como
tendo o seu sentido óbvio, não o de dessemelhança.
Justiça é uma palavra nunca aplicada a Adão em seu estado
não caído, nem aos anjos sem pecado. Somente pode traduzir
uma santidade que entrou em conflito com o pecado na decaída
carne humana, e sobre ele triunfou.
Assim,
"a mensagem da justiça de Cristo" que Ellen White
endossou tão entusiasticamente na época de 1888 está
enraizada nessa única visão da natureza de Cristo. Se Ele
tivesse assumido a natureza sem pecado de Adão antes da
queda, o termo "justiça de Cristo" seria uma abstração
sem sentido. Os mensageiros de 1888 reconheceram o ensino de
que Cristo tomou somente a natureza sem pecado de Adão antes
da queda como um legado do romanismo, a insígnia do mistério
da iniqüidade que O mantém "afastado" e não
"ao alcance da mão".
(8)
Assim, nosso Salvador "condenou o pecado na carne"
da decaída humanidade. Isso significa que Ele superou o
pecado pela lei; o pecado tornou-se desnecessário à luz de
Seu ministério. É impossível ter a verdadeira fé
neotestamentária em Cristo e continuar em pecado. Não
podemos escusar o contínuo pecar declarando que "somos
apenas humanos" ou que "o diabo me levou a fazê-lo".
δ luz da cruz, o diabo não pode forçar ninguém a
pecar. Ser verdadeiramente humano é ser semelhante a
Cristo em caráter, pois Ele era e é plenamente humano, tanto
quanto divino.
(9)
Segue-se que o único elemento de que precisa o povo de Deus a
fim de preparar-se para o retorno de Cristo é aquela genuína
fé do Novo Testamento. Mas isto é precisamente o
elemento de que carece a igreja. Ela se imagina doutrinária e
experimentalmente "rica", de nada tendo falta,
quando na verdade o seu pecado básico é uma patética descrença.
A justificação é pela fé; é impossível ter fé e não
demonstrar justiça na vida, porque a verdadeira fé opera
pelo amor. As falhas morais e espirituais são o fruto de
perpetuar o antigo pecado de Israel de descrença hoje,
mediante a confusão de uma falsa justificação pela fé.
(10)
A justificação pela fé desde 1844 é "a terceira
mensagem angélica em verdade". Assim ela é maior do que
aquilo que os reformadores ensinavam e as igrejas populares
hoje entendem. É uma mensagem de graça abundante compatível
com a verdade adventista singular da purificação do santuário
celestial, uma obra contingente com a plena purificação dos
corações do povo de Deus sobre a terra.
Há
outros aspectos da mensagem de 1888 tais como reformas nos métodos
de saúde e educação, mas nossa principal preocupação
neste livro é o coração, como reconhecido por Ellen
White--justificação pela fé. Não é verdade que a mensagem
de 1888 era oposta à organização eclesiástica (ver capítulo
10).
Significação
da Mensagem Hoje
A
história e mensagem de 1888 propicia uma chave para
reconciliação com o Senhor Jesus. A grande "expiação
final" se tornará realidade. "Haverá uma fonte
aberta à casa de Davi [a liderança da igreja] e aos
habitantes
de Jerusalém [a igreja organizada] para pecado e para a
impureza". Alguns, talvez muitos, desprezarão e rejeitarão
essa fonte de que fala Zacarias, mas cremos que o cerne do
coração do povo de Deus é honesto. Quando conhecerem a
verdade plena, responderão. "O teu povo estará disposto
no dia do Teu poder", declara o salmista. O gênio
latente do adventismo ainda perceberá e receberá verdades
agora percebidas palidamente. A despeito de oposição dentro
da estrutura eclesiástica, a consciência adventista ainda
reconhecerá o testemunho de Ellen White sobre 1888 como sendo
uma genuína manifestação do espírito de profecia, "o
testemunho de Jesus". Em seu impacto sobre corações
honestos, a verdade é invencível.
O
mundo e o universo aguardam aquele outro anjo que desce do céu
"com grande autoridade, e a terra se iluminou com a sua
glória". Se era plano do Senhor que a mensagem de 1888
fosse o "começo" da obra daquele anjo e o
"começo" da chuva serôdia, poderia algo ser mais
importante do que buscar a verdade plena a seu respeito?
Que
este livro possa ser lido com uma oração por discernimento e
um espírito de fé e arrependimento.
Os
Autores.
3
de junho de 1987.
1.
The
1888 Message--An Introduction [A
Mensagem de 1888 -- Uma Introdução], Review and Herald,
1980; Gold Tried in the Fire [Ouro provado no fogo],
Pacific Press, 1983; The Good News is Better Than You Think
[As boas novas são melhores do que você pensa], Pacific
Press 1985; A Summary of the History and Content of the
1888 Message [Um sumário da história e conteúdo da
mensagem de 1888], 1977, The 1888 Message Study Committee
[Comissão de Estudo da Mensagem de 1888].
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