O Toque Feminino que Falta na AES

Direto ao assunto: estamos falando da Presidência da AES – Associação Espírito Santense da Igreja Adventista. E estamos propondo que uma mulher assuma o cargo.

Nas últimas décadas, as mulheres conseguiram igualdade de direitos em quase todas as áreas. Raros são os setores onde ainda existe discriminação.

Este assunto já foi debatido em uma conferência geral da IASD, e a conclusão foi  que não há razão para que as mulheres também não sejam ordenadas como pastoras, mas considerando a cultura ainda existente em grande parte do mundo, resolveram deixar como está por enquanto.

Normalmente quando se fala em direito das mulheres, o assunto é a Igualdade. Como a igreja é em geral conservadora, ainda há machismo em vários setores, e é comum ouvir algumas mulheres repetindo esta palavra com freqüência: Igualdade disso, igualdade daquilo...

Mas a razão pela qual vamos propor uma mulher na presidência da AES não é pela igualdade, e sim, exatamente, pela desigualdade.

Mulheres não são iguais aos homens. São biologicamente diferentes, e seu modo de encarar a vida, sua personalidade, também é diferente.

Este assunto já foi exaustivamente estudado. Inclusive, em relação às diversas atividades profissionais; as mulheres em geral respondem de forma diversa que os homens às situações no ambiente de trabalho. Não existe aqui uma questão de ser melhor ou pior, mas existem as diferenças, que dependendo do caso podem ser benéficas ou não. Este raciocínio vale para os dois lados. Há situações que um homem terá desempenho melhor que uma mulher, e situações em que uma mulher terá desempenho melhor que um homem – e é este o nosso caso particular aqui no Espírito Santo.

Para uma proposta tão revolucionária, seria bom poder citar aqui um monte de estudos científicos comprovando minhas afirmações. Mas não será preciso. Há poucos meses saiu uma edição especial da revista Veja, que é lida pela maioria dos pastores e obreiros em geral. Lá, em diversos artigos, eram acentuadas estas diferenças que tornam muitas vezes a administração feminina mais vantajosa. Mas há um artigo que por si só bastaria; é de Stephen Kanitz, ("Master in Business Administration" pela Harvard University. Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.)

Neste artigo, ele compara a administração das 500 maiores empresas brasileiras (só cinco mulheres na presidência!) e 400 entidades beneficentes, onde a maioria é administrada por mulheres. E conclui que estas empresas são melhores administradas que as “masculinas”:

“O estoque de uma fábrica fica parado por meses sem precisar de supervisão. Tente fazer o mesmo com 359 crianças de uma creche, por um minuto.”  É possível ler o artigo todo na internet, em http://www.kanitz.com.br/veja/mulheres.htm.

As mulheres são mais “negociadoras” que os homens. Dão mais valor a relacionamentos que a orçamentos. Os homens, biologicamente, são mais guerreiros, mais audazes, administram suas empresas como se dirigissem exércitos.

Mas estamos falando da administração da igreja. E na igreja as regras são bem diversas das regras usadas pelas empresas em geral. E é neste ambiente particular que as diferenças se tornam fundamentais, e uma administração feminina aqui, na AES, seria extremamente benéfica. Vamos voltar um pouco ao passado para entender porque.

Durante muitos anos, o nosso “campo” foi comandado pelo pastor Alcy. Crescimento acelerado, construções, inaugurações... “O Espírito Santo tem pressa”, era o seu lema. E ele, como um general, comandava suas tropas. Os obreiros eram comandados com mão de ferro, e tinham que trabalhar duro. Os membros leigos apoiavam sua administração com entusiasmo, pois viam a igreja crescer. Ele criou o projeto “Sansão” (quer imagem mais machista? Músculos, guerra, poder...), fez um projeto de uma igreja em cada cidade e conseguiu. Teve a idéia das rádios, e o nome “Novo Tempo”. Fundou a primeira rádio Adventista, contra a vontade da União, que achava esta idéia de a igreja ter rádios uma tolice.

Com seu estilo mandão, criou muitas inimizades, principalmente entre os obreiros, mas ao mesmo tempo era muito querido pelos membros leigos, pois viam o crescimento acelerado da igreja. Por duas vezes, o pastor Correia veio com a tropa de choque da União para retirá-lo do poder, mas não tiveram sucesso. Em uma destas ocasiões, eu era diretor do Hospital Adventista de Manaus, e me recordo que uma alta autoridade eclesiástica comentou comigo durante uma mesa administrativa: “mas aquele povinho seu lá é encrenqueiro, hein?” E fez referência ao esforço frustrado do pastor Correia e equipe, que não conseguiram derrubar o general Alcy.

Ora, sabe-se muito bem que estas eleições são facilmente manipuladas pelos presidentes, mas o Espírito Santo sempre teve a fama de dar trabalho aos que querem impor sua vontade. Esta alta autoridade eclesiástica ainda está no poder, e mais alta ainda, razão pela qual não cito seu nome para não lhe criar constrangimentos. Não é o pastor Wandyr, está bem?

O pastor Alcy foi chamado para a Divisão, para comandar o sistema de rádios de toda América do Sul. Em seu lugar, ficou o pastor Elso Kapisch, mas os fofoqueiros de plantão diziam que quem mandava era o pastor Edson Luiz Pereira, então secretário.

A administração Kapisch/Edson tentou seguir no mesmo ritmo. “O Espírito Santo Já”, era o lema, tipo “Brasil, ame-o ou deixe-o”. A sombra do pastor Alcy era muito grande ainda, e eles se esforçavam para manter a pose de estadistas bem sucedidos. No jornal da Associação, “O Mensageiro”, publicavam fotos de inaugurações do pastor Alcy como se fossem suas, diziam que a AES era campeã de dízimos (não era, o Rio de Janeiro estava à frente), e colocavam slogans triunfalistas: “Se um EDESSA é bom, dois é melhor ainda”. Queriam fazer um novo internato em Cachoeiro. Queriam também fazer uma nova Associação, o que colaboraria com o plano do governo federal de criar novos empregos.

Nesta época de ufanismo, encontrei o diretor do Hospital Adventista de Vitória, o Dr. Antônio Lino, e lhe propus que entrasse no ritmo do presidente, e também fundasse um novo hospital. Fariam um outro hospital em Vitória, e já que o hospital que ficava em Vila Velha se chamava Hospital Adventista de Vitória, este novo seria situado em Vitória e se chamaria Hospital Adventista de Vila Velha. Ele riu, mas acho que o povo lá de cima não gostou muito da brincadeira e só de pirraça fecharam o hospital, agora nem Vitória nem Vila Velha, bem feito para vocês.

A era Edson/Kapisch ficou famosa por duas coisas. Apesar do ufanismo inicial, as coisas não funcionaram tão bem assim, e eles fecharam várias escolas e congregações. Em vez de criar outro internato, começaram a desmontar o EDESSA. Sua outra atitude foi, em um conluio covarde e cheio de mentiras, tentar destruir o pastor Alcy. Atacaram sua honra e a sua família. Para lograr efeito, tiveram que combinar, em uma reunião noturna, que toda a igreja teria que dizer uma só mentira. E assim foi feito. E a mentira oficial foi implantada. Naquela época, eu já estava por aqui e pude presenciar toda a armação. Pude inclusive gravar algumas coisas muito interessantes.

O pastor Alcy, muito homem, se defendeu. Defendeu a si, a esposa e as filhas. Escreveu uma carta se defendendo das acusações, mostrando que era macho, desafiou que provassem as acusações. Do outro lado, o pastor Correia, principal idealizador da tramóia, também mostrou que era muito macho, e em um ato de esperteza, enganou a igreja e conseguiu cortar o nome do pastor Alcy da igreja sem que ele soubesse. Como já disse antes, houve uma combinação para a Igreja mentir, mas, como diz o povo, o diabo ajuda a fazer, mas não ajuda a esconder.

Já que estamos falando de machões, é bom ver o lado positivo das pessoas também, o pastor Correia, embora administrasse com estilo durão e autoritário, não pode ser acusado de menosprezar as mulheres, tanto que na época já tinha duas.

Naquela ocasião, o pastor Kapisch tentou enfiar no EDESSA um pastor com conduta sexual bem distinta da educação que o EDESSA passa a seus alunos. A comissão da igreja se reuniu, e fez uma carta ao pastor Kapisch pedindo que ele reconsiderasse sua decisão. Ele respondeu que não podia voltar atrás, pois senão diriam que ele não tinha autoridade. E o pastor veio trabalhar no EDESSA. Mas, em vez de aulas de religião, ele preferia dar aulas de sexo – não biologicamente falando – e em menos de uma semana foi retirado da escola, pois a indignação dos pais dos alunos foi terrível.

E assim a administração prosseguiu. Sempre coisa de homem, coisa de macho, nada de diálogo, nada de perdão. É preciso destruir os inimigos.

Veio o pastor Ignácio Kalbermatter. Na Obra, todos reclamam dos administradores gaúchos, até que conhecem os argentinos. Este, muy hombre, también seguió la rotina de ejecuciones. Meu pai e família tivemos que tirar o nosso nome da igreja no Espírito Santo e pedimos transferência para outro Estado, tantas as perseguições e humilhações. Mas o pastor Kalbermatter, embora tenha atuado no EDESSA como Galtieri nas Falklands (está bem, nas Malvinas...) não deve ser colocado no mesmo bornal que os outros personagens que vão aparecendo no desenrolar desta história. Ele estava muito mal assessorado e informado.

O pastor Kalbermatter, ao contrário destes todos que estamos citando, é um homem de palavra, e foi o primeiro presidente de Associação, ao que me consta, que teve a coragem de admitir em público que errou. Isto sim, atitude de Homem, no sentido mais nobre desta palavra.

O pastor Kalbermatter saiu, ficou em seu lugar o pastor Maurício. Bem menos agressivo que o anterior, foi recebido com simpatia pela maioria dos obreiros. O problema é que nunca se sabe de que lado ele está. Com os anteriores, sabíamos se éramos amigos ou inimigos. Com ele, nunca se sabe. Durante nossa permanência na diretoria da AEXAE, pudemos ver que a verdade não é o seu forte. Nos diz uma coisa e, por trás, planeja outra. De todos estes presidentes que já falamos, este é o menos “machista”. Não faz muita questão de ser considerado “A Suprema Autoridade”, é mais dado ao diálogo que seus antecessores. Mas gosta de ser o mais inteligente. Em minha concepção religiosa, é o pior de todos, pois a dissimulação e a falsidade, muitas vezes consideradas virtudes comuns ao sexo feminino, são piores que a truculência machista.

E assim está o Espírito Santo. Aparentemente tranqüilo, nada de novo acontece. Mas por baixo da superfície as águas são turvas. Há um cadáver na sala do presidente. Mataram um homem, e não podem enterrá-lo, por medo da revolta popular, e não podem ressuscitá-lo pela simples falta do poder de fazê-lo. Estou falando do pastor Alcy.

Estamos em véspera de eleições, época de boataria, luta pelo poder. O que aconteceria se os membros da igreja que irão a Guarapari eleger um novo presidente ou reeleger este que aí está, propusessem uma mulher para o cargo de presidente? Todas estas rivalidades históricas, estas disputas para ver quem é mais homem, seriam tratadas de outra forma. Grande parte dos problemas crônicos desta Associação devem-se a esta postura machista e anticristã de não dar o braço a torcer, não dialogar, não perdoar. 

Antes que algum doutor da lei ou sumidade teológica comece a dizer “mas não...”, é bom lembrar que o assunto não é de ordenação de mulheres, e, sim, administrativo. Não há em nenhum lugar na Bíblia a instituição do cargo de Presidente de Associação. E do ponto de vista administrativo, com certeza haveria um grande benefício se uma mulher cristã, honrada e capaz, assumisse o comando e resolvesse as coisas sem o ranço militar-machista.

Quem vota é a assembléia, embora esta seja facilmente manipulada pelos líderes. Mas pode-se aproveitar que o presidente é o pastor Wandyr -  se ele permanecer no cargo – e ele, embora gaúcho, é um homem que gosta do diálogo, e é muito cristão. Quem sabe?

Sei que a idéia será recebida pela maioria como se fosse a candidatura do seu Creysson à presidência da república, mas é para valer. Sei também que, pelos comentários negativos a administrações anteriores, muitos desdenharão esta proposta, pois existe entre os membros a crença disseminada que é pecado criticar líderes em cartas assinadas, isto só pode ser feito em grupinhos atrás da igreja ou em cartas anônimas. Já imagino algum me aconselhando: “é, se você não fizesse críticas, poderia até dar a idéia para colocar na revista adventista...” Mas o principal argumento em favor da entrada de uma mulher na presidência é exatamente a conduta errada dos machões que por lá estiveram. Cito nomes por que a situação é real.

Para finalizar, é preciso dizer, ao menos, quem. Quais as candidatas?

Tenho uma sugestão. Há no nosso estado uma esposa de pastor que também estudou teologia, é a sra. Rosângela Lyra, esposa do pastor Elizeu Lyra. Não os conheço pessoalmente, nunca nos vimos e eles nem devem saber que existo. Ele estava em Guarapari, se não me engano. Mas já li alguns artigos que ela escreveu, ela escreve muito bem, entende muito de teologia. Se saberá administrar não tenho a menor idéia, mas se não souber, e for eleita, simplesmente as coisas ficariam como estão...

Espero que eles não fiquem constrangidos por citá-los, sei que as coisas que escrevo não são recebidas com muito entusiasmo pelo Sinédrio.

Mas, se ao final, a administração feminina não der certo, nós homens diremos,  com aquele ar superior: “Pois é, só podia ser mulher, mesmo...!” -- Tales Fonseca

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