O Concerto Eterno é um Contrato?

 

O assunto da lição da semana passada era o novo concerto. Existe uma grande confusão em torno do velho e do novo concertos. Necessitamos compreender alguns aspectos básicos, a fim de ter uma visão mais clara do plano de salvação elaborado por Deus. Não compreender as diferenças entre os dois concertos equivale a não distinguir entre o evangelho da "graça de Cristo" e o "outro evangelho" (Gálatas 1:6 e 7).

Muitos confundem a palavra "concerto" -ou "aliança"-, crendo que é o mesmo que um contrato ou convênio. Quando um ser humano entra em convênio ou contrato com alguém, é para beneficiar as duas partes. "Se você fizer isto, eu farei aquilo". É algo negociado, e orientado para a ganância em possuir algo. Desejamos algo que a outra pessoa pode nos conceder, e sentimos que possuímos algo que podemos oferecer em troca. É um conceito centralizado no "eu". O que posso obter neste negócio? O que há de bom para mim?

Uma vez que as duas partes concordaram com os termos, o contrato é assinado e se torna legalmente válido para ambos. Cada um deles deve cumprir a sua parte no contrato, ou do contrário é aplicado algum tipo de penalidade determinada pelo acordo. Se trata, portanto, de um acordo mútuo. Mas por acaso estamos em igualdade com Deus? Podemos fazer acordos mútuos com Ele, como se fosse igual a nós? "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus"; "Não há um justo, nem um sequer" (Romanos 8:7; 3:10). Deus é justo; nós somos injustos. Deus é santo, divino; nós somos carnais, e desprovidos de santidade.

Onde podemos encontrar uma base de igualdade, da qual possamos fazer um trato com Deus? O que possuímos para Lhe oferecer, quando recorremos a Ele para fazer um trato? Somente nossos "trapos de imundícia" (Isaías 64:6), nossos pecados, nossas "obras da carne" (Gálatas 5:29). Por nós mesmos, não podemos oferecer obediência nem só a um dos Seus mandamentos, visto que a mente carnal nos impedirá de obedecer a lei de Deus. "Porquanto os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Romanos 8:8). Não podemos fazer contratos com Deus, visto que não temos nada para levar até a mesa das negociações, exceto nosso "eu" pecaminoso, que carece de qualquer valor.

Em contraste com esta idéia, um concerto -ou aliança- pode ser descrito como sendo uma promessa ou "testamento" (Mateus 26:28 e ref.; II Coríntios 3:5; Hebreus 9:15-17). Está orientado para uma pessoa. É algo que alguém (no caso, Deus) faz, em favor de alguém (o ser humano). Sempre é feito na direção do poderoso ao fraco, do rico ao pobre. Um concerto implica lealdade, cuidado e preocupação pela pessoa a qual é feita a promessa.

Isto é claramente ilustrado em Gênesis 15. O concerto que Deus fez com Abraão era de caráter unilateral. Deus prometeu dar a Abraão um filho que nasceria de sua esposa Sara, sendo que ambos, Abraão e Sara, já haviam passado da idade fértil (verso 4). Não havia nada que Abraão ou Sara pudessem fazer para cumprir esta promessa em suas vidas, exceto crer que Deus "era poderoso para... fazer" o que havia prometido (Romanos 4:21). A fé de Abraão na promessa de Deus ("amém" é tudo o que pôde dizer: Gênesis 15:6, em hebraico) é a perfeita resposta ao "novo concerto"!

 

Uma ilustração bíblica

Paulo nos oferece uma excelente ilustração a respeito dos dois concertos.

"Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre. Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa. O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças" (Gálatas 4:22-24).

Paulo explica em que consiste ambos os concertos, utilizando a ilustração das duas mulheres: Sara e Agar. Agar era uma escrava egípcia, serva de Sara. Os filhos de uma mulher escrava são escravos, ainda que o pai seja livre. Agar só podia dar à luz filhos sujeitos à escravidão. A Escritura nos diz que "não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência" (Romanos 9:8).

"Hoje existem estes dois concertos. Não são questão de tempo, mas de condição do coração. Que ninguém se glorie de ser impossível estar debaixo do velho concerto, acreditando que o tempo deste já passou". Sempre que tentamos por nós mesmos, com nossa própria força, cumprir estas promessas que Deus nos fez, estamos debaixo do velho concerto (E. J. Waggoner, As Boas Novas: Gálatas, Versículo a Versículo, págs. 99-100, sobre 4:21-27). É só crendo plenamente em Deus, que ficamos livres para viver no novo concerto.

 

Quando se iniciaram o velho e o novo concertos?

Se o novo concerto não está ligado ao "Novo Testamento", então quando começou? O novo concerto tem existido entre nós desde o Éden. Deus prometeu ao casal pecador que iria estabelecer uma inimizade entre eles e a serpente que os havia induzido ao pecado (Gênesis 3:15). O novo concerto e o concerto eterno são a mesma coisa. Sempre consistiu na promessa de Deus de nos salvar sem obra alguma de nossa parte. O novo ou eterno concerto foi instituído antes que o velho.

Quando começou o velho concerto? Nos próprios portais do Éden. O "velho concerto" tem existido no coração do homem desde que surgiu o pecado. Existiu muito antes de que as leis cerimoniais fossem decretadas no Monte Sinai. Não tem nada a ver com o "tempo", mas tem tudo a ver com a condição do nosso coração, em nossos esforços para ajudar Deus a nos salvar.

Quando Deus deu a Adão a instrução relativa às ofertas pelo pecado, especificou que devia escolher um cordeiro sem defeitos dentre o seu rebanho. Foi indicado a Adão que este animal simbolizava o Messias que viria no futuro, morto "antes da fundação do mundo" (Apocalipse 13:8; I Pedro 1:18-20). Através da fé na promessa de Deus, Adão instruiu a seus filhos que fizessem o mesmo.

"E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas... e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta. Mas para Caim e para a sua oferta não atentou" (Gênesis 4:3-5).

Porque o Senhor não Se agradou da oferta de Caim? Porque "sem derramamento de sangue não há remissão" de pecado (Hebreus 9:22). Caim estava tentando salvar a si mesmo, segundo os seus próprios métodos. Pensou que a sua oferta de frutas seria tão boa como a que Deus havia pedido. Acaso não havia se esforçado ao produzi-la? O Senhor não aceitaria este produto do seu trabalho, realizado com esmero e dedicação? Caim não creu na promessa de Deus, e tomou sobre si o peso da sua vida. Sua vida subseqüente é uma lição dos resultados de agir segundo o velho concerto: foi "fugitivo e vagabundo na terra" (Gênesis 4:14).

 

Qual é a "melhor" aliança?

A lição da semana passada também tratava da "melhor aliança" -ou "superior aliança". Ainda que continua sem poder distinguir entre o novo e o velho concertos, afirma corretamente que o "problema" era a falha do povo em aceitar a promessa de Deus pela fé. Jamais houve falha ou deficiência na promessa de Deus para a humanidade.

A "melhor aliança" de que Paulo nos fala em Hebreus 8:6 é o concerto eterno de Deus feito antes da criação do mundo. Este concerto é melhor, muito "melhor" que as promessas do homem de obedecer a Deus (Êxodo 19:8). Porque? Porque está "confirmada em melhores promessas" (Hebreus 8:6), as promessas de Deus de salvar a humanidade do pecado. "A salvação dos seres humanos é uma magnífica promessa, que põe em ação todos os atributos da natureza divina. O Pai [e] o Filho... comprometeram a Si mesmos [ou seja, prometeram] de fazer dos filhos de Deus mais que vencedores por meio dAquele que os amou" (Ellen White, Review and Herald, 27 de janeiro de 1903).

O evangelho é chamado de "boas novas de salvação de Deus". É a promessa de Deus aos homens de que lhes "salvará... dos seus pecados", não neles (Mateus 1:21). Nos é dito através da Sua Palavra que junto com a provação sempre haverá "o escape" -ou saída, ajuda- em todas as tentações (I Coríntios 10:13). Quando cremos que é assim, isso se torna uma realidade em nossas vidas. O evangelho "é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê" (Romanos 1:16).

Qual é a "nova aliança" que Deus deseja fazer conosco, de que fala Jeremias 31:31? Deus sempre teve um objetivo para Suas criaturas: que venhamos a crer na Sua "melhor aliança" de nos salvar de nosso pecado. Espera ansiosamente o dia em que o Seu povo dê ouvidos ao Seu amorável chamado e reflita, deixe de ser "louco" -ou néscio- (Mateus 25:2) e "miserável" (Apocalipse 3:17), e creia de todo coração no poder de Deus para salvar eternamente a todos aqueles que crêem em Sua promessa. Em vez que nos apoiarmos em nossas infelizes e deficientes promessas de obedecer, quando cremos na Palavra de Deus a nós, e pela fé permitimos que Cristo viva em nós, estaremos vivendo debaixo da melhor promessa do novo e eterno concerto.

 

Uma obra do coração

Infelizmente, estando ao pé da montanha, somos levados -como os filhos de Israel- a dizer: "Tudo o que o Senhor tem falado, faremos" (Êxodo 19:7 e 8). Prometemos ao Senhor, sendo que Ele nunca nos pediu para fazer alguma promessa. Ele sabe que as nossas promessas têm tanta força como palavras escritas na areia. Tudo o que pede é que creiamos na Sua promessa a nós. "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a Minha voz e guardardes [no original, "cuidar, cultivar"] a Minha aliança, então sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos" (Êxodo 19:5).

Que cremos que somos por adoção filhos de Deus (Romanos 8:15; Gálatas 4:5; Efésios 1:5), responderemos da forma apropriada. Em vez de nos comportar como rebeldes pagãos, responderemos como sendo os filhos do Rei do Universo. "Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente" (Tito 2:11-12) Não como um servo obedeceria, por obrigação e dever, mas de coração, que expressará o desejo de seguir a Deus em todo lugar a que nos guiar. A obediência aos dez mandamentos de Deus é o resultado natural de compreender isso. "Todas as Suas ordens são promessas habilitadoras" (Parábolas de Jesus, pág. 333).

Aquilo que Deus promete -ou pede para fazermos-, Ele mesmos realiza através do poder do Espírito Santo, quando exercemos fé em Sua Palavra. Quando cremos nas promessas de Deus, somos capacitados a fazer o que teríamos sido incapazes em nossa própria força. "Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o [mal] que quereis" (Gálatas 5:16 e 17). A fé nos coloca no novo concerto, que é a melhor promessa, feita por Deus.

Quando apreciamos verdadeiramente o que Ele já fez para nos salvar, responderemos como Deus deseja que respondamos. Veremos os dez mandamentos como dez gloriosas promessas, não como dez restrições que nos amordaçam enquanto agonizamos para obedecê-las. Guardar os dez mandamentos será a alegre resposta do coração ao amor ágape de Deus revelado no Calvário. Como filhos e filhas adotados por Deus, avançaremos alegremente, desejando obedecer a nosso Pai cheio de graça.

Não precisamos viver debaixo no velho concerto. A promessas de Deus são seguras. A fé faz das promessas de Deus uma realidade em nossas vidas. Não temos porquê esperar nem um momento mais. "Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação" (II Coríntios 6:2). -- Tradução: Matheus. E-mail: EvangelhoEterno@aol.com.

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