O Que Tem a Ver Pão Integral com Batismos?

Hoje, ao iniciar este outro texto, lembro-me das palavras de Cristo:

Tu és cego... Eu repreendo e disciplino a todos quanto amo... Sê pois zeloso e arrepende-te... Eis que estou à porta da tenda, das Associações, das salas dos que querem ser evangelistas e bato. Se você ouvir a minha voz e deixar que eu guie as conferências. Se me deixar falar em você, através de um convívio influenciador comigo. Se você estiver comigo ali e batizar quem me aceitoui, eu batizarei seu trabalho com fogo e com Espírito Santo e não será você que vai falar, porque naquele mesmo instante lhe será dada inspiração e lembrará das minhas palavras e elas o conduzirão por toda a verdade!

Sim, irmãos, se permitirmos que Cristo se faça presente em nossos esforços evangelísticos, então será dito dos valorosos pastores adventistas, aqueles que realmente cumprem o seu ministério: “Quão formosos são os pés daqueles que anunciam a minha Palavra!” Não há que possa substituir ou ter maior valor e importância que o louvor e aprovação do próprio Deus. Coroas de verdade, com estrelas de verdade, pelos batismos de verdade, serão postas verdadeiramente sobre as cabeças que seguiram a verdade.

 

O significado do batismo

A morte da velha vida e a ressurreição para uma vida nova em Cristo é o significado do batismo, cerimônia originada por Deus entre os judeus e ordenada por Cristo em substituição da circuncisão, que era o ato simbólico e doloroso, imagino, para se demonstrar adesão ao povo de Deus de outrora.

No batismo, segundo Paulo,  estão representadas a morte e a ressurreição de Cristo. Assim como Jesus, feito pecado em nosso lugar, deixou-se  ser morto pela justiça divina, e aguardou do Pai a doação da sua própria ressurreição, assim também aquele que se batiza deve estar no mínimo consciente de que deve deixar morrer sua vida de pecado, seus desejos carnais pecaminosos, sua vida impura e de valores terrenos, em troca de apenas confiar em Deus para uma nova vida segundo em Cristo  Jesus.

A cruz de Cristo e as nossas cruzes não são nada mais nada menos que tentativas do diabo usando as pessoas para tentar fazer com possamos desistir de morrer para esta vida e reagirmos erroneamente, abandonando este maravilhoso caminho da renúncia por amor Àquele que tudo perdeu e renunciou por nós.

Batizar portanto é mais que uma cerimônia de águas e mergulho. É a completa entrega da pessoa a Deus. É a firme decisão de ser como Cristo em doar sua vida, doando-nos a nós mesmos de volta a Ele em resposta de amor. Uma declaração pública de tal entrega a Jesus, que seremos fiéis a Ele custe o que custar.

Batismo é entrega. É deixar ser morto carnalmente. É morrer para nossas opiniões, é perder, é virar a outra face, é confiar somente em Deus e entregar-lhe o espírito. É ter palavras de amor em meio ao leito de renúncias daquilo que queremos e gostamos. É a cerimônia que reflete a maior glória do Salvador. Aqueles momentos em que toda a dor e culpa não foram capazes de fazê-Lo desistir de nós, devem nos inspirar à mesma perseverança pelos santos ideais do nosso Amado.

 

O que o batismo significa HOJE

Na IASD, ocorrem batismos maravilhosos. Pastores consagradíssimos pregam e contribuem para que almas perdidas e sem rumo para com Deus, entreguem-se a Ele e sejam no mundo uma bênção. Mas este site, como vocês já sabem, está aqui não é para encher a bola da Igreja nos seus pontos positivos. Estamos aqui para tentar corrigir alguns probleminhas, ou problemões, e achamos que seja útil também vermos no que conseguiram transformar esta esplendorosa cerimônia, repleta de santidade, significados e poder. Foi por isso que falamos do "pão integral" lá no comecinho, aliás, no título do artigo. Você já vai entender...

Imagine, por exemplo, pastores adventistas, diante do trono de Deus, sendo interrogados sobre o real valor de muitos batismos por eles realizados prematura e indevidamente. Como como soldados nazistas, que diziam aos tribunais: “Fiz o que me era mandado”, acusarão o Sistema. “Os homens da União, Associação, etc, queriam números, então... Culparão, talvez, até a Bíblia: “Senhor, aquele relatório de Pedro é de causar inveja: três mil conversos num só dia, é demais!”

Lembro-me de quando estava diante de uns 600 pastores no concilio da União Este de 1995. Entre os temas, o alvo batismal era o assunto do Pr. Joel Sarli. Dizia ele, com toda a prudência e sabedoria, que o critério de avaliação a partir dos números era falho. Mas era tão subjetivo e educado para falar que seu estilo "sabonete" causava mais admiração que a idéia de mudança, que, em minha opinião, ele tentava expor. (Depois da reunião, o meu Presidente disse: “O Joel falou aquilo lá, mas cá, em baixo, é tudo diferente!”)

Enquanto o Joel falava, bateu em mim uma identificação tão grande com a proposta que quase não acreditei no que ouvia, vindo de alguém que podia considerar como uma instancia superior. Aí, quis ajudar, porque sempre estou desejoso de ajudar a IASD a melhorar sua trajetória ao Céu.

 

(Fui fazer teologia, primeiro porque Deus praticamente me obrigou, um dia eu conto... Segundo, porque via a necessidade da Igreja. Cada fraqueza que via me movia para querer suplantá-la. Minhas experiências pessoais com Deus e o entusiasmo pela única razão para viver, que é encontrá-Lo e ir viver com Ele, empurravam-me teológico abaixo. Sinais divinos me convenciam que devia continuar e lá eu sonhava em revolucionar esta minha igreja, à qual gostaria de amar. Mas a dor que sinto ao ser traído juntamente com Cristo, por ser ela mais fiel a sistemas e homens, muitas vezes nitidamente vazios do espírito santo de Cristo, deixa-me assim, meio desiludido...)

 

Bom, estava na reunião e, então, após terem dado a oportunidade, adiantei-me à frente para ajudar o pastor Joel a dar o seu recado. No caminho pensei: “Vai, porque você não terá outra oportunidade.”

Lá da frente, pude notar os olhares expectativos e pude ler alguns lábios, dizendo que eu mal tinha chegado e já ia falando. Outros se referiam a mim como obreiro muito novo e que deveria ficar calado, ouvindo os mais velhos e experientes.

Ao terminar, os olhos do Ministerial pairavam sobre mim com demonstração de medo, ou receio de que eu daria trabalho para ele. Realmente não sei, mas era um olhar diferente.

Apenas falei que o alvo numérico estava incentivando os pastores a batizarem pessoas despreparadas, pois estas deveriam batizar-se apenas caso realmente se convertessem, aceitando Jesus de fato e demonstrassem alguma mudança nesta direção. Comentei também sobre o batismo de crianças que, em geral, acontece à revelia sem se definir a criança como preparada, pois crianças também se convertem e demonstram mais nitidamente este fato...

Foi só isto. Não me lembro de mais nada. Não comentei sobre a questão do alvo corromper o “serviço desinteressado” que Deus requer. Não critiquei o ranking onde, semelhante a um departamento de vendas, faz-se mensalmente um demonstrativo de quem batizou mais. Parece-me que foi anulado recentemente e substituído pelo de arrecadação de dízimos...

Não falei do interesse mercantilista que é causado no pastor pelo alvo numérico, a ponto de fazê-lo enxergar em cada alma não-adventista, a possibilidade de uma ficha preenchida, a possibilidade de um parabéns, de um adicional, de um respeito a mais no trabalho e, talvez, um cargo superior, com honras superiores, privilégios... Não falei sobre nada disso. Apenas comentei sobre o despreparo de boa parte dos batizandos, como resultado da ênfase numérica.

 

Triste exemplo de incentivo ao batismo

Eu já estava realmente chateado com o tal do alvo batismal. Indignado por constatar como essa meta numérica tem tanto poder para corromper pastores, ideais, significados e a santidade do próprio batismo. Havia participado de uma série de conferências onde o infeliz evangelista convidava as pessoas para se batizarem, segurando nas mãos como incentivo uma garrafa de suco de uva, uma Bíblia e um pão integral. Berrando, ele “apelava” às pessoas a se “decidirem”... por Jesus, é claro! O fato de aquelas pessoas pobres ganharem o pão, o suco da Superbom e a Bíblia, quando diziam sim ao batismo, eram apenas um estímulo, estímulo justo e saudável, sem sombra de dúvida...

Cheira à pretensão o que vou falar, mas quando alguém ora perto de mim, creio que consigo sentir se aquela oração está na conexão espiritual. Se o espírito de Deus está presente nela. Acho que não sou o único. Apenas é difícil e até chato comentar essas intimidades, mas como aqui existe liberdade, sinto-me à vontade...

O fato é que, um dia, quando esse conferencista do pão integral pregou, ao orar, eu senti Deus com ele e comecei a questionar a Deus automaticamente, perguntando: Como o Senhor está com ele? Ele ofendia aos obreiros bíblicos de público, escandalizava o nome de Deus e da sua esposa, a IASD, com aquela conferência que dos 40 batizados não resta nenhuma viva alma e nas palavras de um ancião do Bairro: “Sodré, este batismo de crianças, esta gastação de dinheiro, isto não está certo...” Mas eu me achei perguntando a Deus porque Ele o ouvia...

Depois deste incidente, o evangelista substituto estimulou os obreiros a batizarem bem depressa as pessoas que encontrassem. Estes, para manterem seus empregos e demonstrarem “serviço”, saiam a buscar os meninos da rua, porque naquela altura nenhum adulto levava a sério aquele circo, aliás, “ tenda”, desculpem. Numa pressa desenfreada, davam uns estudos e pronto, ficha preenchida!

Havia nove meninos para se batizar ao final da dispendiosa serie de conferencias. Lá atrás do palanque, eu estava organizando o som e fiquei admirado com aquelas crianças. Resolvi perguntar porque estavam ali, se sabiam a que igreja iriam pertencer, se os pais delas sabiam de alguma coisa... Lembro-me que ainda tentei perguntar em vão algum dos dez mandamentos. Crianças espertas, aquelas. Elas sabiam que podiam perder o pão, o suco e a Bíblia, então evitavam responder errado, de cabeças baixas. A única pergunta que uma delas respondeu foi a qual igreja iriam pertencer:  “Pra igreja de crente, ué!?”

No culto batismal, o Espírito Santo parecia totalmente ausente. Uma cantora conhecida por nome de Rosilene, muito consagrada, foi convidada para aquele “grande evento” que fechava com chave de “ouro” aquela série de “mensagens” sobre Jesus. Ela me chamou, dizendo em tom bem triste: “Sodré, eu não sinto a presença de Deus aqui”. Quanto sofrimento existia em sua voz e no seu olhar!

 

Gran Circo Adventista del Séptimo Día...

Voltei para os fundos, para ficar com os meninos e chegou o “evangelista”. (Já reparou quantas aspas se abrem e se fecham?) Então, apelei a ele e lhe disse, no mesmo tom da Rosilene, para que  não fizesse aquele batismo, expliquei-lhe que as crianças estavam ali só para ganhar a Bíblia. Sabe o que o “evangelista” me respondeu? “Sodré, o que os homens lá de cima vão falar se eu não batizar?”

Ali estava um homem fiel. Um homem que administrador de Campo nenhum sente receio de contratar, um feijão sem bicho, fiel, cordato, obediente, prudente, esperto, sábio, humilde, quantas virtudes tem aquele homem! O pior que ele é legal mesmo, gente boa, creio que seja até meu amigo... Pelo menos era, até ontem... E ainda bem que não digo o nome dele. Jesus mandou resolver os casos a sós para não expormos as pessoas. Relato isto mais para ensinar sobre o tema do que para expor alguém.

O batismo aconteceu sob o olhar triste da cantora triste, que emitiu um canto triste. Aquela não era mais uma tenda, era um circo. Só que as crianças não ganhavam pirulitos, ganhavam Bíblias. O palhaço não fazia muita graça, apenas batizava. Era somente esta a sua obrigação cega, desgraçada, miserável, nua... Feita sob um terno, uma consciência limpa, uma ficha limpa, na água morna e que lhe permitiria um glorioso retorno à Associação, com mais umas fichas de batismo preenchidas e executadas, serviço completo... O número e o relatório do sistema estava pronto. Dormiria ele tranqüilo aquela noite, dizendo para sua esposa: Trabalhei duro hoje, mas a “missão” foi cumprida...

 

Quase acabando...

Tomara que você não interrompa a leitura. Se não, vai achar que só vejo coisas más na IASD. Não. Trabalhei em mais de vinte conferências e posso citar bênçãos também. O pastor Ercides Inácio de Oliveira, evangelista da Brasil-Central é outra historia. Ali está um pastor, na minha opinião, de verdade. Suas conferências batizam de fato, pessoas adultas morrem para o mundo e ressurgem para Deus. Trabalhar como obreiro dele foi maravilhoso, além do serviço, ele amava aos obreiros, a todos, e o Espírito do Senhor se fazia presente. Deus o recompense pastor! Homem simples, humilde, verdadeiro.

Ouvi dizer da fama do Pr. Raildes e pude presenciar pessoas transformadas pelo contato com este pastor. Trabalhei  com muitos pastores sinceríssimos, Ervin Woerly, Luis Gonzaga Leite, muitos...

Há, porém aqueles que cedem ante a pressão de um sistema opressor que recomenda um critério imbecil e diabólico de avaliação. Se a Bíblia fosse nossa ÚNICA regra de fé e Jesus fosse, de fato, a cabeça desta Igreja, os relatórios seriam semelhantes aos dados no fim da missão dos setenta: simples, poderosos, convincentes. Veja: “Os demônios nos submetem, cegos vêem, doentes são curados”. AMÉM. Mas o sistema transforma trigos em joios, e estes  crescem juntos, evangelizam juntos, batizam juntos, lêem este artigo também juntos, ainda bem que não queimam juntos. Isso não. Tomara que eu não seja joio também!

Voltando lá para o concilio, logo depois de meu pronunciamento, houve um pequeno intervalo. Ao sair, vi-me cercado de uns dez ou mais “evangelistas”, defendendo com textos de EGW o batismo de crianças. Textos bem fora de contexto, é claro. Mas pareciam que queriam me pegar, me humilhar, uma espécie de linchamento espiritual... Fiquei admirado ao notar o quanto tão poucas palavras mexeram com eles. Cheguei até a pensar que a carapuça tinha servido. Será?

Depois da confusão, um pastor, amigo de colportagem, disse-me: “Eu o admiro por dizer a verdade, mas duvido que você falaria assim se fosse casado, pagasse aluguel, tivesse filhos para criar...” Fiquei triste por ouvir isto e mais ainda por perceber a realidade de que, na verdade, o pão integral  é muitas vezes a única motivação de quem batiza também. Amém.Sodré Gonçalves, autor da série de artigos: Nova Avaliação Geral da IASD, publicada em maio, sobre vários tópicos.

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